sábado, 16 de maio de 2020

Reflexão sobre ser feliz



É comum quando iniciamos uma conversa com alguém , seja pessoalmente ou virtualmente, e fazer aquela perguntinha de praxe : Oi, tudo bem? Automaticamente respondemos : Sim, está tudo bem. Na maioria das vezes  que respondemos a este cumprimento de forma mecanica  nem sempre está tudo bem. Mas, para não iniciar uma conversa chata respondemos automaticamente que "está tudo bem" .

Agora imagine se esta pergunta tão corriqueira nos nossas interações fosse um pouquinho diferente? E se mudassemos um pouco esta pergunta , que aliás, já é bem batidinha e fizessemos a seguinte pergunta: - Oi, você está feliz? Aí o contexto muda de figura. Tudo pode estar bem , dentro do planejado, dentro da nossa rotina normal . Mas,  a gente pode não estar feliz.

Hoje parei para refletir sobre viver feliz e apesar de estar tudo bem na minha vida ( por enquanto) . Vivendo  a mesma rotina de sempre , trabalhando e tendo uma vida quase que "normal" em meio a crise que a pandemia provocou no mundo. Eu não estou feliz.

De que me vale ter um emprego fixo ( serei shain a partir de junho) , um apartamento pré -mobiliado gratis , um dinheirinho economizado ( em euros) , se eu não estou feliz?

Sou muito grata por todos estes anos que vivi e vivo aqui no Japão. Realmente o Japão é a minha segunda casa . Vivi momentos muito felizes graças ao meu trabalho aqui no Japão . É como se o Japão fosse uma ponte que me permitisse viver experiencias que jamais pude viver estando no Brasil. Muito obrigada , Japão! Sei reconhecer o quanto o Japão me ajudou a crescer por poder viver aqui.

Apesar desta gratidão que tenho pelo país, eu nunca fui e nunca serei feliz aqui. O motivo? O "life style" japonês. As pessoas no Japão ainda não aprenderam a viver a vida de uma forma leve e descontraida . Talvez a filosofia do trabalho antes de tudo ainda esteja muito enraizada na cultura e na sociedade japonesa.

Quando eu estive em Okinawa , uma provincia mais ao sul do Japão , pude perceber a diferença na hospitalidade e no "no stress" dos okinawanos. Afinal, viver em meio a praias paradisiacas onde o clima é sempre quente o ano todo acaba por influenciar o estilo de vida das pessoas.

Não tenho dúvidas de que viver longe das cidades grandes é muito mais relaxante . Perto da natureza então , é duas vezes melhor! Não importa se são as praias paradisiacas da Tailandia ou a paisagem enevada dos alpes suiços. Poder ver a beleza da natureza de perto me faz muito feliz.

Tenho um sonho de adolescencia que é o de viver em uma ilha paradisiaca e viver uma vida simples. Coisa de adolescente sim, mas que continua sendo um sonho que não sai da minha cabeça. Isto sim, me faria muito feliz todos os dias . E se eu estivesse estressada por alguma razåo. Me sentaria debaixo de um coqueiro, beberia uma àgua de côco  e apreciaria a beleza do mar. 

 E se algum dia alguém me perguntasse se eu estou bem ? Eu responderia : Sim, estou muito feliz.

Reflexões e sonhos de adolescencia à parte. Eu creio que tudo aquilo que não sai da nossa cabeça , seja algo positivo ou não, em um determinado momento da vida ela acontecerá.

E aí? Está tudo bem com você?



sexta-feira, 15 de maio de 2020

A agonia de ser estrangeiro em tempos de crise



Nada como viver uma crise global estando na nossa terra. Não sei se a situação dos estrangeiros em outros países é mais cômoda , mas para nós brasileiros que vivemos em terras nipônicas a agonia é grande.

Na crise de 2008/2009 com a queda do Banco Lehman Brothers o Japão foi atingido de forma imediata. O desemprego rolou solto por todo o país e muitos brasileiros não tinham nem aonde morar.  Eu me incluo. Fiquei sem emprego e sem moradia. Fui morar com uma amiga peruana e seu pai, pagando o valor de um aluguel inteiro por um quarto. Passei meses recebendo ajuda do seguro desemprego e fazendo bicos em snack bar. Dinheiro eu tinha, mas ninguem quer alugar um apartamento para uma estrangeira desempregada.

Novamente uma crise assola o país, desta vez a crise é sanitária, mas atinge muitos setores da economia japonesa por causa do distanciamento social e a queda na produção de produtos manufaturados. Corro novamente o risco de perder meu emprego e residência , ou ser transferida de setor. Começa a bater aquela velha e conhecida insegurança em tempos de crise.

O governo japonês não está muito preocupado em proteger a mão de obra estrangeira, aliás, nunca esteve. Um plano de ajuda aos nacionais estava sendo cogitado pelo governo japonês , mas tal ajuda não incluia estrangeiros diretamente. De forma sutil o governo alegava que somente pessoas que saibam ler e escrever corretamente em japones teriam acesso a tal ajuda. O que causou certa indignação em nós estrangeiros . Em algumas semanas o governo japones decidiu cancelar tal ajuda que seria de 300.000 iens para o chefe da familia ( japonês ou que seja alfabetizado na lingua) e decidiu contribuir com uma ajuda unica de 100.000 iens para cada pessoa de uma mesma familia, incluindo crianças. Quem tem uma familia grande recebe mais, quem vive sozinho recebe apenas a ajuda unica de 100.000 iens. Parece ser uma boa ajuda a principio, mas no mes de junho começam as cobranças do imposto residencial e impostos sobre veículos automotores. Tais impostos não são baixos . Dependendo do salário  do ano anterior o imposto residencial por muitas vezes ultrapassa o orçamento mensal do trabalhador japones/ estrangeiro. Eu particularmente pago em media 1.000 dolares por ano em 4 parcelas . Há quem pague mais . Para quem possui veículos o valor de impostos a serem pagos duplica. Então, essa ajuda do governo vem apenas para não causar inadimplencia no pagamento de impostos do governo. Quem perdeu o emprego neste periodo e mal consegue pagar as contas do mês se verá obrigado a pagar os impostos municipais em dia ou a perda do direito a renovação do visto.

No caso dos japoneses , muitos fazem acordos para pagar impostos e diluem as dividas em anos. Quanto a nós estrangeiros, o atraso no pagamento ou a diluição da divida pode acarretar em diminuição do visto ou a suspensão. Dependendo da provincia e do agente de imigração. Eu até o momento não tive problemas para obter o visto mesmo estando desempregada na crise de 2009 porque meus impostos estavam em dia.

Agora , vamos a questão do desemprego. Obviamente que em qualquer país do mundo a prioridade serão as pessoas naturais do país. Ainda mais em um país racista e de uma maioria patriota como o Japão. Você pode ser muito bom no seu trabalho, mas nunca será melhor que um nativo. Aprendi por experiencias que vivi em outras crises que mesmo que o seu chefe queira te manter , sempre existirá um japonês que reclamará a sua posição pelo simples fato de ser japones. O que ja ocorreu comigo algumas vezes. A minha competência foi trocada pela nacionalidade de uma japonesa que estaria para ser demitida.

Sabe-se que os estrangeiros , sejam eles brasileiros, vietnamitas , filipinos , coreanos ou de qualquer outra nacionalidade são necessários apenas para ocupar funções que os japoneses se recusam a fazer no setor de manufatura do país. Portanto, na primeira crise , a corda arrebenta do lado mais fraco, a dos estrangeiros. Eu como estrangeira sou sempre a primeira a ser recrutada para trabalhos mais árduos , e todas as vezes que necessitam mudar horarios ou dias de folga a convocada sou eu , porque  os japoneses se recusam a mudar a sua rotina.

Para vencer tais barreiras e manter-se empregado, é preciso ser muito mais competente que os japoneses , causando uma certa inveja e muita falsidade. Além de uma boa comunicação com os superiores no estilo "puxasaquismo". Típico da cultura laboral japonesa.

E aí? Como sobrevivemos a tanta pressão em tempos de crise? Não conheço outra forma a não ser manter a calma e aceitar o que vem . É impossivel um estrangeiro deixar de se-lo em qualquer lugar do mundo. Sempre existirão restrições e desafios.





terça-feira, 5 de maio de 2020

Recordar é viver



Sabe aqueles momentos em que a vida dá uma estagnada ? Seja por nossa culpa e inércia ou por força  s externas , o melhor a fazer nestas horas é recordar . Recordar que tivemos periodos bem piores e que tudo passou. Recordar que tivemos o privilegio de ver mossos sonhos realizados. Recordar uma antiga paixão que ficou no passado , mas ainda nos faz suspirar. Recordar é viver.

Não há nada mais frustrante do que chegar a uma certa idade e não ter vivido nem um terço daquilo que a vida tem a nos oferecer. É em momentos como este periodo de privações que necessitamos reforçar a nossa memória com lembranças de tempos passados que não voltam mais , mas que fizeram parte de um processo de autoconhecimento e amadurecimento emocional.

Você tem boas recordações? Tem muita história para contar de tudo aquilo que viveu ? Tem fotos guardadas na memoria do seu computador de viagens, festas com a familia , ou de qualquer evento que foi marcante em sua vida? Reviva-as em sua mente. É impressionante como dá um "up" no nosso ânimo para começar um novo dia em meio a tantas privações do periodo.