domingo, 22 de julho de 2018

Amizades no país do Sol nascente



Em questão de amizades não costumo diferenciar minhas preferências, basta que seja um encontro de almas para que a relação evolua. A boa comunicação verbal é sem dúvida um fator importantissimo para aprofundar-se e interagir com outras culturas, mas aquilo que irá impulsionar a relação para um crescimento mutuo ainda é a comunicação não verbal que se expressa com os sentimentos.

A cultura japonesa , como todos já sabem, é cheia de convenções. Ao conhecer alguém novo existe uma forma convencional ou formal de se apresentar. As relações no ambiente de trabalho geralmente não passarão de coleguismo. Podemos trabalhar durante anos ao lado de algum japonês e ele nunca te perguntar se você tem filhos, ou qual a sua lingua madre. Talvez para não serem invasivos ou por puro receio de não saber lidar com um estrangeiro e seus costumes.

Fiz algumas pocas boas amizades com japonesas aqui na cidade onde vivo. Algumas me ajudaram muito em certas ocasiões e sou muito grata a elas. O unico problema delas é que não se expressam de maneira natural , existe sempre uma barreira emocional . Ou seja, a maneira como os japoneses administram as suas emoções  dentro dos relacionamentos. Para ser mais clara, lhes falta expressividade fisica e também a verbal para expressar sentimentos. Desta forma as relações não evoluem como o esperadado.

Com o tempo compreendi que os meus genes "samurais" tem também um certo peso em meus relacionamentos. Fui criada em um ambiente familiar onde não existiam abraços , nem tam pouco o costume de dar beijinhos no rosto. O contato fisico era excasso. Ao comparar minha relação familiar com a de meus amigos que foram criados em um ambiente mais caloroso de certa forma eu os invejava.

Curiosamente o destino me trouxe para a terra dos samurais onde expressar os próprios sentimentos não é muito bem visto. Demorei anos para aprender a lidar com esta cultura e me comportar como manda a cartilha dos samurais. Parei de chocar-me com a postura cultural dos japoneses de não expressarem verdadeiramente o que sentem. Isto não quer dizer que eu tenha aderido à cultura , simplesmente procuro conviver bem com eles e não espero que compreendam a minha necessidade de mais expressividade e espontaneidade .

Enfim, aquilo que importa é respeitar as diferenças e não criar expectativas irreais quando nos inserimos em uma cultura totalmente diversa . Independente de como fomos criados ou de nossas origens , aquilo que nunca devemos ignorar é a nossa verdadeira essência.





sexta-feira, 13 de julho de 2018

O verão japonês

         


O verão japonês chegou com tudo este ano, apesar da epoca de chuvas que devastou Hiroshima. Aliás, ôh lugarzinho pra ser devastado, ne!

Na quinta- feira passada foi anunciado na fabrica que quem quisesse folgar na segunda-feira poderia usar yukiu ( folga remunerada) , e como a produção anda baixissima e eu estou ainda aprendendo a medir os vidros e salvar no Excel ( Excel e Windows em japonês) , decidi na ultima hora em folgar na sexta-feira e emendar até segunda.

Quatro dias de folga em pleno verão em uma cidade onde não existe nem estação de trem. O que fazer ? Busquei reservas em hoteis para aproveitar a comodidade de estar hospedada em um hotel perto da praia. E quem disse que encontrei vaga? Tudo lotado durante todo o verão.

Eu não possuo carro aqui por acreditar que carro é um mal necessário que dá muita despesa, mas sem um meio de locomoção a vida fica muito dificil aqui no interior. Imaginem pedalar mais de 40 minutos debaixo de um sol de mais de 33 graus ? Foi o que eu fiz. Era o que tinha e não me arrependo.

Peguei a minha bike , me armei de coragem, gelo  ( comprado no seven eleven) , um shorts , uma camiseta , óculos de sol e chapéu. Na ida até que foi tranquilo, mas na volta eu estava toda pegajosa e muito cansada. Apesar da dificuldade valeu muito a pena aproveitar a minha folga de sexta-feira para ir a praia.

O tempo estava perfeito, quente , mas nem tanto. A brisa do mar ainda estava fresca . Decidi dar uma parada naquelas construções de verão que ficam na beira da praia para comer alguma coisa. Que idéia fantàstica! Comer camarão frito na praia, sentindo a brisa do mar e ouvindo apenas o som das ondas do mar é simplesmente fantástico. Acho que suspirei de satisfação umas três vezes enquanto saboreava os camarões fritos. Uma delícia.

No caminho de volta passei por uma loja de departamentos para comprar um bikini , mas os bikinis japoneses mais se parecem com roupas de ginástica, outros com muita renda e flu flus que eu particularmente odeio. Sem falar no preço absurdo. Saí da loja e voltei uma quadra para me refrescar com algo gelado em um café que costuma tocar bossa-nova como musica ambiente. Neste café servem todos os tipos de café que se possa imaginar, desde o tradicional até os mais elaborados para o verão. Super refrescante!

Ainda tinha uns 25 minutos de bicicleta até o meu apartamento e no meio do caminho começei a sentir aquele cansaço de pedalar por tanto tempo debaixo daquele sol escaldante. Quase morri . A primeira coisa que fiz foi tomar uma ducha para tirar aquela sensação de suor pegajoso.

Hoje o sol está tão ou mais escaldante do que ontem e apesar do corpo dolorido por pedalar mais de 40 minutos no dia anterior , eu ainda estou animada a dar uma voltinha rápida na praia que fica aqui perto, cerca de 15 minutos. Não é uma praia para banho de mar , mas a visão do mar e o contato com a natureza me faz muito bem. Então, lá vamos nós outra vez.

É sempre bom estar ciente de que o calor japonês não é igual ao calor que estamos acostumados no Brasil, pelo menos na região sudeste, e preparar-se para não passar mal com o calor excessivo e a umidade excessiva do ar é algo imprescindível. Sempre sair usar chapéu e levar consigo uma garrafa pet de água congelada ou bebidas especificas para esportistas .


domingo, 8 de julho de 2018

Meu passado , meu futuro



" Quem vive de passado é museu" . Diz um dito popular. Então eu sou um museu ambulante e metamorfósico.

Não dá para vencer uma corrida se a todo instante olhamos para tràs , não é mesmo?Perde-se tempo e concentração. Ao mesmo tempo, como tudo na vida tem a sua dualidade . É preciso olhar para trás de vez em quando para não cometermos os mesmos erros do passado.

Passamos boa tarde de nossas vidas desenhando rascunhos daquilo que seria melhor para nós . Alguns rascunhos se tornam realidade, alguns meros rabiscos .

Hoje é mais um daqueles dias de mergulhos  no tempo, no tempo passado. Eles vem em sonhos,  ou ao encontrar velhos albuns de familia enquanto faxinamos a casa. Até mesmo quando reencontramos velhos amigos da adolescência em redes sociais. Nestas horas é inevitável mergulhar nas nossas lembranças. Algumas lembranças nos trazem muita alegria ao presente, assim como outras nos fazem sentir a mesma angústia de experiências passadas e mal resolvidas.

Para resolver questões de um passado que já não existe mais é preciso mergulhar profundamente em suas águas. Regogizar-se com as boas lembranças e encarar de frente todas as emoções que procuramos esquecer. Tudo que vivemos no passado faz parte integrante daquilo que somos hoje, e não há como ignora-las, passe o tempo que for. Não há como esquecer o primeiro amor, a primeira desilusão, as primeiras conquistas , nossos erros e nossos acertos. Tudo faz parte de nós.

"Furusato" , é um termo muito utilizado no Japão para descrever o nosso retorno ao nosso local de origem, a nossa casa , a nossa vila, ao nosso passado. Em um dado momento da vida , apös vivenciarmos  tudo aquilo que precisavamos vivenciar para avançar , vem  a inevitavel fase do mergulho em nosso passado. Para muitos pode significar um retrocesso , para outros , o reencontro com o nosso passado pode ser o reinício de uma nova fase .


Meras reflexões de um alguém que perdeu o seu passado para o tempo e a distância. 

Namastê!




quarta-feira, 4 de julho de 2018

Japoneses no trabalho




Em meu primeiro intervalo de 15 minutos ( a empresa dá 15 minutos de intervalo de 2 h em 2 h ) , fui ao refeitório da fabrica e tinha uma japinha sentada com os olhos colados no celular. Isto era por volta das 18:00 h . Como sempre , muito "majime" ( correta) que sou , fiz meus 15 minutos de repouso e logo voltei ao trabalho.

Retornando ao meu posto , me sento , olho para o lado e a minha colega de trabalho japa  que se senta logo ao meu lado estava dando uma bela cochilada sentada , meio que debruçada sobre o seu material de trabalho , que  consiste em pequenos vidros cortados para a confecção de lentes para cameras fotograficas. Nenhum pó ou particula microscópica podem passar pela inspeção, mas com ela  debruçada praticamente em cima dos vidros , com certeza alguns vidros deverão ser descartados.

As 20:00 h saí novamente para o meu intervalo de 60 minutos  de janta ( não remunerado) . Entrei no refeitório e lá estava a mesma japinha que estava no refeitorio às 18:00 h , desta vez literalmente roncando debruçada na mesa do refeitorio com o seu casaco cubrindo a sua cabeça.  Ela estava repousando no refeitorio desde as 18:00 h , ou seja , ela estava a tôa por 2 h no refeitorio. Logo que eu me sentei a mesa e liguei a televisão ela se levantou e saiu . Não sei para onde , talvez dar um giro do lado de fora do prédio.

Voltando do meu intervalo de 60 minutos ( normalmente faço apenas 40 minutos) , entro na seção e lá está a minha colega japa cochilando ainda , sabe-se lá desde a que horas.

As duas japas mais dormiram do que trabalharam o dia inteiro. Desse jeito fica até monótono demais ir trabalhar para dormir . Melhor ficar em casa dormindo.

Para entender a dinâmica da situação, o periodo é de baixa produtividade , portanto , muitas pessoas ficam sem ter realmente o que fazer durante quase metade da jornada de trabalho. Daí o povo faz 2 h de intervalo,  sai para fumar quinhentas mil vezes , ou ficam assistindo tv pelo celular . Fazer uma faxina no refeitorio que está com o chão encardido ninguém quer .

Vendo esta situação de ociosidade total dos meus colegas japoneses , fico aqui pensando : Onde é que foram parar os japas "majimes" ( corretos) que sempre estão no imaginário popular?

Provavelmemte limpando as arquibancadas dos estadios da Russia . Quando tem alguém vendo.



terça-feira, 3 de julho de 2018

Destino


         

Houve um tempo em que eu me perguntava  com frequência se o destino existia?. Coisas de uma adolescente rebelde e sem causa. Talvez naquele tempo eu tenha sido influenciado por aquelas fotonovelas italianas , as edições de contos românticos , e  muita sessão da tarde assistindo filmes épicos. Mas a verdade é que eu ansiava por uma vida fora do comum , de grandes feitos, grandes acontecimemtos , muita aventura e romance. Como nos filmes românticos da sessão da tarde.

A minha realidade era bem diferente da minha expectativa de ter uma vida cheia de emoções e aventuras. De casa eu ia para a  escola e da escola eu ia para casa. Às vezes eu tinha que lavar a louça do almoço , passar a enceradeira na sala e lavar o banheiro. Minha maē me dizia que menina que não gosta de lavar a privada cresce feia. Lavei muita privada até os meus 12 anos. Depois , já não me importava mais se seria bonita ou não.

Meu passatempo preferido era viver lendo contos românticos. A minha maē deveria ter me proibido de ler tanta fantasia e ler mais livros educativos . Talvez , hoje  eu tivesse  uma mente mais lógica e não me questionasse tanto sobre o destino.

Destino ou livre-arbítrio. O que dá no mesmo. Parte de nosso destino já está traçado até mesmo antes de nacermos. Ninguém tem o livre- arbítrio de escolher onde , como e quando nascer. O nosso papel dentro do nosso destino é simplesmente de como  iremos    vivencia-lo.

Saturno é o meu regente , e como tudo , onde tem a mãozinha rígida de Saturno as coisas não acontecem por si só. Onde não houver disciplina não haverá ordem , e onde não há ordem não haverá progresso ou prosperidade. Isto é de fato algo que percebo nitidamente no curso da minha vida. Quando solto as rédeas de Saturno para respirar um pouco, me divertir e desfrutar da vida relaxadamente , a conta vem. É como estar remando contra a maré e soltar os remos. A canôa fica  a deriva e sabe- se lá onde ela vai atracar. Num paraiso de frutas tropicais e praias paradisiacas? Com a regência de Saturno duvido muito que algo assim tão desfrutável ocorra.

Após a minha descoberta de que o destino existe, fui perdendo aos poucos aquela ilusão de querer viver o que não estava reservado para mim. É tipo , querer ter nascido rica , se nasci pobre. Querer ter  olhos azuis se nasci com os olhos castanhos. Querer ter ganhado na loteria , se nunca apostei. O nosso querer também tem limites.

Dá para ficar rico mesmo sendo pobre? Dá. Depende do nosso esforço e da nossa sorte . Dá pra ter olhos azuis? Dá. Basta comprar lentes de contato coloridas. Dá para ganhar na loteria? Dá . Se apostarmos com frequência as nossas chances aumentam . As nossas chances de mudar o nosso destino está condicionada a lei de causa e efeito, ao mesmo tempo ela està atrelada ao nosso karma de vidas passadas. Não bastaria o meu livre-arbítrio para mudar aquilo que estava escrito.

Parece meio fatalista, mas esta é a realidade sem romantismo do que é o destino. Dá para dar uma melhoradinha aqui, acolá . Mas se o seu karma imutável é viver uma vida simples , comum, rotineira e cheia de percalços , nem ganhar na loteria te livrará do seu destino.

Aceita que dói menos!




Amizades japonesas


Há mais de 10 anos vivendo em terras nipônicas já era tempo de ter boas e profundas amizades com os japoneses. Só que não!

Sempre procurei fazer amizades com pessoas de todas as raças desde que decidi ficar por muito tempo em terras nipônicas. Foram filipinos, peruanos, argentinos, bolivianos , italianos , brasileiros e japoneses que conheci ao longo deste periodo todo. Sempre os tratei como iguais , apesar das diferenças culturais, mas devo confessar que aprofundar uma verdadeira amizade com os japoneses é uma missão quase que impossível. Não existe o principal para aprofundar amizades : a profundidade.

Tive ao longo dos anos algumas amigas japonesas que me ajudaram muito e sempre foram muito prestativas . No fundo sei que elas possuem alguma consideração por mim, mas falta a cumplicidade , falta falar sobre os nossos problemas, falta compartilhar as nossas alegrias, falta intimidade, falta um abraço amigo. Sinto falta de amizades mais construtivas e afetuosas.

Não vejo os japoneses como uma raça fria e sem sentimentos, eles simplesmente são contidos demais. Alguns por pura timidez, outros por questões meramente culturais de um país onde as pessoas não se tocam muito. A coisa mais rara é cumprimentar alguèm com um aperto de mão, quem dirá um abraço ou beijo no rosto. Eu mesma tomo o cuidado de não tocar os japoneses enquanto eu falo . Eles podem não gostar , achar muito invasivo ou simplesmente estranharem o ato .

Uma vez toquei o rosto de um colega japa de serviço para mostrar a ele o quanto a minha mão estava gelada. O japa teve uma reação tão estranha que até hoje não consegui identificar qual foi a reação dele ao ser tocado pela minha mão gelada. Seria de frio, seria de extase, seria de desconforto? Sei lá!

Nem todos os japas e as japas são assim , mas a grande maioria é muito cheia de convenções e isto dificulta uma intimidade e naturalidade maior nos relacionamentos. Talvez até entre eles mesmos seja assim.

Desisti de querer aprofundar amizades com japoneses. A melhor forma de fazer boas amizades com japoneses nativos é ser como eles gostariam que você fosse, ou que você se adapte a forma cheia de convenções a que eles estão acostumados.

Em parte, percebo que eles gostam oumse divertem com o meu jeito diferente de ser , mas ao mesmo tempo se sentem incomodados ou intimidados quando sou expressiva demais.

Aquilo que me conforta é saber que isto não ocorre só comigo. Meu amigo italiano também se sente totalmente bloqueado quando o assunto é cultivar amizades com os japoneses.

Vivendo e aprendendo. Nunca pensei que os japoneses fossem tão fechados antes de conviver com japoneses nativos . E olha que o meu pai era japonês legítimo.

Cheguei a conclusão de que o japonês é muito mais japonês quando vive em sua terra natal , e a coletividade tipica da raça asiática os impede de serem mais livres. Em contra-partida, quando eles se aventuram a viver  em terras estrangeiras são mais adaptáveis as diferenças e mais originais.

O mesmo japonês que viveu anos na europa não é mais o mesmo que voltou a viver em sua terra natal e vice-versa. Talvez isto tenha ocorrido comigo também, mas se tem uma coisa que eu não dispenso em uma boa e verdadeira amizade são os abraços e a cumplicidade. Nestes dois quesitos a japonesada deixa muito a desejar...