terça-feira, 25 de setembro de 2018

Honne e tatemae

                    
        
           
     


Aprendi a pouco tempo o significado de "honne e tatemae " em japonês , e estou aplicando todos os dias no meu trato com a japonesada. Pra dizer a verdade, eu creio que não há outra forma de se relacionar em um ambiente de trabalho onde 99% dos funcionários são japoneses. Eu sou o 1% da minoria.

Não sei explicar o significado correto desta modalidade de comportamento cultural japonês, mas é mais ou menos ser franco e direto ( honne) ou ser convencional ( tatemae) , no sentido de manter as aparências e um comportamento adequado para as relações em geral. Pra ser mais direta é como ser verdadeiro ou falso .

No Japão as pessoas costumam usar de certas regras de comportamento para não criar situações embaraçosas ou atritos , e o "tatemae"  é frequentemente usado pelos japoneses para evitar conflitos ou antipatia gratuita entre os colegas de trabalho. Por um lado é bom, mas este  tipo de comportamento não os impede de falar mal de colegas de trabalho pelas  costas. Para mim é pura falsidade , mas se para os japoneses as coisas devem funcionar assim. Que assim seja!

Aprendi a saudar os japoneses com submissão ( só no tatemae, of course) , principalmente os chefes. Pra dizer a verdade acho que passei um pouco do "tatemae" e já devo estar quase no nivel do "goma sori" . "Goma sori" é outra modalidade de comportamento muito frequente no Japão que são os puxa-sacos de chefões. Esses costumam se dar muito bem aqui no Japão. Todo chefão tem uma meia-duzia de "goma soris" , e todos convivem em total harmonia. É quase uma relação sinestésica.

Além destas duas modalidades eu não dispenso o meu próprio método de um bom relacionamento em ambientes conflitantes de trabalho que é o velho e bom " em cima do muro". Não caio nem para  um lado e nem para o outro. Quase neutra, pra dizer a verdade.

Resumimdo, estou uma verdadeira "duas caras" no meu relacionamento com a japaiada. Contanto que eu não prejudique ninguém e busque apenas a minha neutralidade acho que não é um pecado.

Lidar com japoneses no ambiente de trabalho é muito chato. Nunca sabemos se o colega de trabalho que te dá balinhas ,biscoitinhos e sempre te cumprimenta   com um sorriso no rosto está sendo "honne" ou "tatemae" . E já que esta dúvida faz parte do jogo , vamos aderir.




segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Vida de "anarfa" in Japan



Às vezes eu fico pensando se a vida de um "anarfa" no Brasil é igual a de tantos brasileiros que vivem aqui na terrinha do sol nascente...

Será que se eu fosse " anarfa" no Brasil eu sofreria tanto quanto sofro aqui, ou seria mais light pelo fato de não saber ler , mas saber falar?

O meu japonês é intermediário , mas ainda sofro para aprender e pronunciar algumas palavras , assim como de entender certas expressões. A escrita também é intermediária, já que sei ler  e escrever em katagana e hiragana , mas o kanji ainda é um grande emaranhado de risquinhos.

No meu trabalho me atribuiram a função de medir pontos de lâminas de vidro para confecção de lentes para iphone. Detalhe: tudo no windows em japonês , depois os dados devem ser salvos no excel , em japonês. Levei umas três semanas para entender o que eu estava fazendo , memorizar os nomes dos clientes em kanji e os comandos básicos do programa para medição. Eu tive que memorizar já que não leio kanjis. A minha unica  vantagem é que os lotes estão todos em alfabeto romano. Facil para mim, dificil para os japas que não estão muito habituados a teclar tanto em alfabeto romano.

Para quem é "anarfa" de kanji , não tem outra solução ( mais imediata) do que decorar os ideogramas como se fossem desenhos. Pelo menos é assim que eu me viro.

Com os preparativos para a minha viagem para a Tailandia topei com uma exigência bem chatinha do país. A tal da vacina contra a febre amarela para portadores de passaporte brasileiro. Pesquisei em varios sites onde tomar a tal da vacina em Shizuoka , mas as informações em portugues não me indicavam nenhum hospital habilitado para tomar a vacina e receber o cartão amarelo de vacinação em inglês nas proximidades. O jeito foi traduzir no google tradutor o nome da vacina e pedir para uma amiga japa pesquisar em sites de hospitais de Shizuoka. Mas calma lá! Nem tudo é tão simples assim . Eu desenhei o kanji da vacina , mas ela não conseguia ler o kanji. Tem isso também entre os japas. Eles sabem ler , mas nem sempre sabem o significado correto.

O nome da vacina contra a febre amarela é Ounetsu byou wakuchin, e como eu havia escrito em letras romanas Onetsu sem um "u" , ela não conseguia entender . Além do kanji que ela não conseguia decifrar, ne! Pequenos detalhes que fazem toda a diferença.

A solução para este problema foi traduzir a pagina do Hospital de Shizuoka no google tradutor . E não é que funcionou?

Santo google tradutor que sabe mais kanjis do que a minha amiga japa!Amém!

Não fosse o google tradutor eu estaria literalmente perdida aqui em terras nipônicas . O google tradutor traduziu tudo perfeitamente. Mesmo " anarfa" de kanjis , quem se propoem a pesquisar incessantemente no google sempre encontra uma solução.

Texto do site do Hospital de Shizuoka-ken e o kanji de febre amarela . Não entendeu nada? Pergunta pro google!



sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Um golpe de sorte




Aqui em terras nipônicos quando recebemos alguma correspondencia da Prefeitura , é com certeza para quitar alguma dívida ou qualquer outra coisa desagradável do gênero. Abri a correspondencia toda apreensiva quando percebi que era da Prefeitura. Como sempre tudo escrito em kanji e para variar com alguns valores em iens referentes a alguns anos. Com certeza é mais imposto para pagar. Logo pensei.

Peguei a correspondência e tentei ler algumas palavrinhas em hiragana , mas como o resto estava em kanji não consegui entender absolutamente nada. Em algumas linhas finais estava o kanji de "guinko" , ou seja , banco em japonês. Só deu para entender que havia um valor para ser cobrado ou creditado na minha conta. Pessimista como sempre , já imaginei que seria algum valor em atraso de impostos para pagar .

Levei a correspondencia para o meu trabalho, para que uma amiga japa le-se para mim. Ela foi lendo a correspondencia e arregalando os "zoinho" . Daí percebi que poderia ser alguma coisa boa . E era. Recebi uma devolução de imposto residencial cobrado à mais há uns 3 ou 4 anos atrás. Inacreditável! E eu pensando que era uma cobrança!

O valor a ser restituido em conta é de 73.000¥, aproximadamente uns 650 u$ . Valor exato que eu estava querendo economizar para as minhas despesas pessoais na Tailândia. É um golpe de sorte? Obra do acaso?

A resposta para este "fenômeno" se chama gratidão. Todos os dias eu oro e agradeço a Deus por mais um dia , mesmo que esteja chovendo, mesmo que  eu esteja cansada , mesmo que a grana esteja curta . Eu agradeço por ter um teto, um emprego que adoro, um apartamento grátis , e por simplesmente estar de volta a esta cidade , que para mim é a minha casa aqui em terras nipônicas.

O sentimento de gratidão ao orar funciona , e nos conecta com o todo. Não tenho dúvidas de que esta maré de sorte tem a ver com este sentimento que carrego dentro de mim todos os dias quando levanto da minha caminha macia e começo um novo dia .

Estou muito , mas muito feliz!! É o sinal do Universo querendo me dizer : - Vai viajar !!

As passagens já estão reservadas e o hotel também. Aliás , estou levando comigo nesta viagem uma amiga muito querida que está precisando relaxar dos problemas dos ultimos anos, e decidi presentea-la com a estadia gratis. Definitivamente , tudo aquilo que damos de coração retorna em dobro.

Harmonia total com o Universo!


Namastê!

domingo, 16 de setembro de 2018

Preguiça

          
                                      Eh mesmo? Olha a minha cara de preocupada. 

Ultimamente ando com preguiça de gente. Aliás, já faz um tempo que estou com preguiça de ouvir os mesmos assuntos, ver as mesmas caras , e principalmente preguiça de gente chata.

O meu conceito de gente chata é de pessoas que não mudam o modo de pensar . Sabe as Gabrielas da vida? " Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, Gabrielaaaaaaaa!

Como boa Capricorniana que sou , mudar a mentalidade é um trabalho árduo que requer dedicação, disciplina e uma pitada de inteligência. Não é nada facil mudar a nossa forma de pensar e agir no mundo , mas aos poucos a gente aprende a ser menos inflexível e cabeça dura. Só o fato de refletir sobre o assunto já é um grande passo .

Sinto falta de gente que me desafie a repensar os meus valores , de gente que me questione, me estimule a ser alguém melhor, de gente que seja um modelo a seguir.

Hoje falei com a minha maē pelo Skype pela primeira vez desde que estive em São Paulo , há um ano e meio atrás. Fiquei feliz de reve-la por webcam e notar que ela está muito bem , apesar de suas queixas com dores no corpo. Além de suas queixas dolorosas , ela ainda mantem o hábito de se queixar de pessoas. Parece que falta assunto se ela não se queixar de alguém. E a Igreja ? Vai todo domingo na igreja pra se queixar também ?

Triste admitir , mas a minha maē me cansa. Será que nem uma vez se quer na vida ela deixará de se queixar das mesmas coisas e das mesmas pessoas? Graças. Deus não sou mais o foco principal de suas queixas.

Seria o céu para mim se um dia a minha maē me desse um conselho sábio de maē . Bastaria uma unica vez , uma palavra de incentivo e sabedoria. Só que não! É a típica situação: expectativa x realidade. Meio frustrante . Me dá preguiça porque sei que nem  mil chamadas de Skype , nem mil viagens de retorno mudarão a realidade de sempre.

Atualmente o meu melhor conselheiro tem sido a astrologia  e os videos do Luz da Serra , que fala sobre espiritualidade e por todo o processo que estou passando. Infelizmente é praticamente impossível falar sobre estes assuntos com pessoas do meu meio . Não que elas não precisem se espiritualizar. Precisam e muito, mas ainda não me sinto à vontade para tocar no assunto com pessoas tão cruas. Quem sabe um dia eu me sinta capaz e preparada para plantar uma sementinha  sem querer impôr nada a ninguém.



Namastê!