quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Confissões de uma ex- adolescente

                   
   

E assim os anos se passaram. Cresci e fiz as minhas escolhas. Algumas poucas acertadas, outras uma confusão de tentativas ousadas sem bases reais. 

A vida afetiva se desenvolvia da mesma forma que a profissional. Muitos foram os " empregos" que tive , muitos foram os " amores" que vivi. 

A maternidade chegou assim, de repente. Me envelhecendo 10 anos. O peso da realidade de ser responsável por uma vida me tirou o doce sabor de viver a vida sem compromissos. 

Trabalho- casa - trabalho - filho. Esta era a minha vida no auge dos meus vinte e poucos anos. Minha prioridade era o de vencer o desafio da maternidade. Desafio, esta é a palavra que costumo usar para descrever a minha experiência de maternidade.

Sonhos e projetos. Decidi optar pelos meus sonhos e deixar os projetos de vida para uma outra oportunidade. Queria ser livre , não ter compromissos.  Queria voar por sobre as montanhas , como em meus sonhos de infância. 

Hoje, passados alguns muitos anos e saindo da segunda adolescência ( aquela de quem não teve infância), sinto falta de " compromissos". A liberdade nos liberta de tantas amarras , e ao mesmo tempo nos faz tão autosuficientes que acabamos por nem perceber que já não necessitamos mais de tanta liberdade. 

Os sonhos , quase todos realizados , falta apenas um ( não é ganhar na loteria) . Os projetos de vida, estes ficaram a mercé do àcaso. Não me refiro em particular ao profissional, muito mais o pessoal. 

A liberdade nos dá asas para voar longe , ao  mesmo tempo , nos tira o foco de onde  e quando devemos pousar e construir o nosso ninho. 


domingo, 25 de janeiro de 2015

As aparências enganam

    
     
 Gueisha  japonesa. Você seria capaz de desvendar o verdadeiro caráter deste ser por baixo desta maquiagem?


Nos últimos anos , por várias ocasiões , tive que conviver com pessoas de várias culturas e em variadas situações. Relacionamentos afetivos com alguns europeus, amizades com japoneses ( nativos) , peruanos, filipinos , e ultimamente conheci uma outra raça asiática, os taiwaneses. 

Em meio a tanta diversidade de raças e costumes, fica praticamente impossível agradar a gregos e troianos. 

Na minha convivência com japoneses, percebi que generaliza-los é um erro. Um japonês do norte do Japão é totalmente diferente de um japonês cosmopolitano de Toquio , por exemplo. Assim como paulistanos são diferentes de nordestinos, existe uma diferença no comportamento e na forma de se expressar de cada nativo. Porém, em termos culturais ( história do país e crenças religiosas) o comportamento japonês tem uma característica marcante. 

Na minha humilde opinião, a raça japonesa é uma verdadeira caixinha de surpresas.  Apesar de cada qual ter uma tendência comportamental diferenciada por região, a maioria  das mulheres japonesas ( em particular quando jovens) tem expressões doces e fala quase que infantilizada. Há quem se iluda ao pensar que todas as japonesas são realmente doces de caráter. É muito mais modismo e convenções do que a verdadeira expressão do ser. 

Não querendo generalizar, mas generalizando, dificilmente se conquista uma verdadeira amizade apenas por empatia. No japão , alguns comportamentos são generalizados ( uniformizados). É preciso provar que é merecedor de confiança. Esta tarefa pode ser árdua e levar muitos anos de conflitos comportamentais. 

Para nós que estamos acostumados a fazer amizades instantâneas, mesmo quando estamos apenas esperando o ônibus no ponto , a diferença no comportamento japonês é algo que por vezes incomoda bastante, pelo fato de serem muito mais fechados. Talvez entre eles ( japoneses nativos) nem seja tanto, mas o fator timidez unida a falta de iniciativa faz com que os relacionamentos em geral levem mais tempo para se desenvolverem de forma empática. 

Eu particularmente , me esforço para fazer novas amizades com japoneses nativos, mas às vezes me desanimo . A espontaneidade não é um comportamento muito bem visto entre os japoneses , e esta mania de comportamento convencional muitas vezes me cansa a beleza. Enfim, nunca posso ser eu mesma , antes de passar pelo clivo de convenções comportamentais típicos  da raça japonesa. 

A impressão que fica sempre é a de que estamos fingindo o tempo todo para o bem geral, e de repente, em determinadas situações ( de estress) a japonesada mostra a sua verdadeira  face. Coisa que   assusta a um estrangeiro que não está acostumado com tanto teatro nos relacionamentos pessoais. 

Para mim, a essência do ser humano é , ou deveria ser igual em qualquer parte do mundo. Com todas as experiências que vivi nos ùltimos anos, chego a conclusão de que a  verdadeira essência do ser está esquecida em algum lugar, perdida em meio a tantos condicionamentos , crenças e comportamentos  culturais. 




sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Reflexões

          
                                                        okinawa - Japan 
   
Todos os dias quando estou voltando do Hotel de bicicleta, desço e começo a andar , empurrando a bicicleta e apreciando a natureza. É nestas horas que começo a refletir:  - Meu Deus, mas oque é que estou fazendo aqui?

Nada nesta vida é por acaso, e se eu vim parar no cú do Japão , em meio a selva virgem, mar e muita solidão , tem uma razão de ser. Será?

Às vezes fico pensando que tem coisas que acontecem porque era destino, e em outras é verdadeiramente o acaso. Acaso no sentido de não ter sentido algum, ou porque simplesmente a nossa vontade nos move por caminhos desnecessários. Não que eu pense que seja uma experiência inválida viver em mundo totalmente diferente daquele que estamos habituados, tudo é válido. Tudo mesmo! 

Nestes meus cerca de 15 minutos de caminhada fiquei refletindo sobre tudo aquilo que eu queria para a minha vida e os caminhos tortos que tive que percorrer para acalça-los. Tudo que eu desejava para mim não se realizou, mas em contrapartida, todos os caminhos " tortos" que decidi percorrer deram resultados imediatos. 

Pois, por tudo aquilo que eu vivi ( nos meus caminhos tortos) eu posso afirmar que nem sempre o caminho certo é aquilo que necessitamos para o nosso crescimento pessoal. 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sorrindo pra dentro

      
 

Ultimamente eu ando falando sozinha , rindo sozinha , e agora eu me pego sorrindo sozinha. Não sei se saberei explicar tal sorriso. É um sorriso de satisfação pessoal que vem espontaneamente e quando tem pessoas em volta eu tenho que disfarçar , senão, vão achar que eu estou louca. 

Tenho provado tantas sensações e emoções ultimamente que nem saberia descrever o meu verdadeiro estado de espírito. 

Passei alguns dias  nervosa,outros irritada, outros insegura, outros tranquilos, outros animadíssimos, outros dolorosos , e assim seguia a roda viva da minha vida. Porém, entre uma sensação e outra, bastava eu sair e dar uma volta de bicicleta pela ilha, desvendando os tantos caminhos que sempre nos levam ao mar para recobrar as minhas energias . Bastava por os pés descalços na areia morna e olhar para o céu azul que se mesclava ao verde esmeralda do mar , e lá vinha aquela sensação de paz , tranquilidade e satisfação. 

Inevitavelmente nestes momentos brota um sorriso de satisfação. Satisfação por estar vivendo todos os meus sonhos , apesar da realidade ser , por vezes , bem dura. 

É nestas horas que eu agradeço a Deus por me permitir viver a vida ao meu modo. Recriar a vida como eu gostaria que ela fosse só um pouquinho. E esse pouquinho já é muito.

Meu sonho de adolescência sempre foi o de viajar pelo mundo, conhecendo tantas culturas e tantas verdades locais. Sim, cada cultura tem a sua verdade, e eu queria conhece-las. Não me conformava com o padrão paulistano  de viver, cercado por prédios, transito engarrafado, violência, gente desonesta e pouca, pouquissima natureza. 

Também não acreditava muito na percepção de vida de meus genitores. Para mim, eles mentiam, ou eram limitados demais para não me ensinarem sobre as mil maneiras de se levar a vida de forma gratificante sem ser apenas aquela material , ou aquilo que estava escrito na cartilha da vida. 

A vida tem muito a nos oferecer , basta apenas saber oque nos traz verdadeira satisfação e correr atrás. Mesmo que demore anos, mesmo que não dure para sempre. Serão estes momentos de satisfação expressados   em um sorriso solitário que farão a vida ter sentido , mesmo naqueles momentos em que nada parece ter sentido. 


Dia surreal


Nunca pensei que um dia eu iria viajar de ônibus e ferry boat ( por livre e espontânea vontade) , por quase duas horas , em um dia chuvoso , enfrentando a maré nervosa do alto mar só para ir levar agulhadas nas costas. 

Esta minha vida em Okinawa está bem surreal se comparada a vida rotineira de todas as outras cidades que vivi aqui no Japão. 

Para começar, Okinawa deve ser a única cidade japonesa que tem horários fixos de ônibus, mas eles nunca chegam no horário. Eu pretendia pegar o ônibus da ilha ( gratis) das 8:30 , cheguei muito em cima da hora , e talvez ele já tivesse passado. Esperei o proximo , debaixo de forte chuva , que seria o ônibus das 9:20 , mas ele apareceu as 8:56. Até agora não sei dizer se eu estava atrasada ou se o ônibus estava adiantado.

Chegando no porto de Ishigaki, lá fui eu procurar a clínica para tentar resolver o meu problema de dores lombares. Com o endereço todo em japonês e sem conseguir entender nada, dei umas 10 voltas no mesmo quarteirão sem encontrar a tal clinica. 

Pergunta daqui, pergunta dalí. Entrei em um prédio que parecia uma Clinica porque tinha uma ambulância na frente. Não era. Porém o rapaz que me atendeu foi muito gentil e me acompanhou na rua debaixo de chuva para me ajudar a encontrar a tal clinica. Não encontramos.

Mais umas cinco voltas no mesmo quarteirão até encontrar a tal Clinica que não era Clinica, era uma casa comum . Era a casa de um massagista. Até aí tudo bem. De tanto caminhar procurando a tal Clinica eu já estava toda torta e dolorida, precisa de uma massagem mesmo. 

Após uma meia hora de massagens, aliás, muito relaxantes, o sensei ( massagista) me perguntou se eu gostaria que ele me furasse. 

Ahmmmmmm? Como assim?

O tal massagista era acupunturista , e me aconselhou a levar umas picadas para diminuir a dor que eu estava sentindo. Bom, depois de todo este cansaço , pés e sapatos encharcados, para procurar e chegar até a Clínica eu já não estava mais me importando com nada. 

Levei umas 10 ou 20 picadas. Não sei precisar porque algumas agulhadas nem doiam e outras doiam demaaaaaaaaisss. Segundo o sensei, o meu lado direito todinho estava estragado, desde as costas até a lombar, apesar da dor se concentrar na pélvis. 

Terminando a sessão de agulhadas ele finalizou me enchendo de esparadrapos em X. Não conheço esta técnica que segundo ele os atletas e os sumodoris usam muito. Vamos ver se todo este sacrifîcio vai surtir efeito amanhã quando eu voltar as minhas atividades normais. 

Hoje deveria ser mais um dia de folga ou melhor dizer repouso , em função das minhas dores na lombar, mas tive que acordar as 7:00 da manhã para  pegar o ônibus e voltei para o alojamento as 18:00 h, depois de andar feito uma camela o dia inteiro e balançando e chacoalhando em alto mar dentro de um ferry na ida e na volta. 

Se amanhã eu não estiver melhor , não será culpa do massagista e sim do ferry boat que me jogava de um lado ao outro. 
 

domingo, 11 de janeiro de 2015

Mudando conceitos

       
        

   
Desde  que cheguei em terras Okinawas , mais precisamente em uma ilha , onde 90% do território é composto por mata virgem, começei a ter que me habituar com alguns sons que não eram muito comuns de se ouvir nas grandes cidades. 

Durante o dia alguns pássaros literalmente caminham entre as matas . Nunca vi tanto passarinho andando pelas estradas. Creio até que tais pássaros passem mais tempo em solo do que em voo. A princípio eu me assustava com os ruídos que vinham de dentro da mata, mas agora já me habituei. No verão é melhor estar mais atento porque pode ser uma cobra venenosa que também habita estas terras. 

A noite o ruido é bem outro. Um canto que eu nunca tinha ouvido na vida. Não era como o canto dos sapos , era um canto diferente que eu não conseguia identificar. 

Comentei com uma colega de trabalho japonesa e ela me disse que era o canto das largatixas. E largatixa canta? 

Se este canto é realmente o canto das largatixas, então a região onde eu estou vivendo deve ter uma comunidade inteira. 

Desde pequena sempre tive horror as largatixas . Aquele negócio delas soltarem  seus rabos para escapar de algum predador era mórbido demais para o meu gosto. Ver uma  largatixa com rabo já me causava aflição, quem dirá uma sem.

Pois bem, agora que estou literalmente invadindo o território delas, afinal elas já estavam aqui antes de mim, eu precisei mudar os meus conceitos em relação a estes pequenos répteis, que por sinal são ótimos  para manter a nossa casa livre de alguns insetos indesejáveis e nos ajudam  a economizar com inseticidas. 

Aqui no Japão dizem que a largatixa cuida das nossas casas e que te-las dentro de casa é uma boa coisa. Se não traz sorte, ao menos nos livra de aranhas , baratas , percevejos e outros insetos. 

Ainda não me acostumei com a ideia de dividir o meu apartamento com a Jurema, uma largatixa de origem Okinawa, mas entre correr o risco de ver a casa invadida por aranhas , centopéias e escorpiões ( com certeza devem existir aos montes aqui) , eu preferi adota-la como minha inquilina. 

A ùnica coisa que me incomoda no comportamento de Jurema, é a sua mania de ficar grudada na parede. De resto, a convivência tem sido tranquila.



domingo, 4 de janeiro de 2015

Recalque

                   
   

Aqui no Japão existe um fenomeno muito estranho que eu chamaria de " recalque nikkei". São aquelas pessoas que apesar de serem brasileiras ( descendentes) não sabem direito se são brasileiros , japoneses ou um ET.

Tais pessoas costumam ter um comportamento recalcado em relação aos seus conterrâneos nikkeis. Normalmente tais pessoas preferem trabalhar com os japoneses nativos, e a cada nikkei que começa a trabalhar no mesmo setor provoca nestas pessoas uma reação de insegurança, antipatia instantânea e repulsa por aqueles que são da mesma origem, ou seja, brasileiros descendentes de japoneses.

Alguns até afirmam que preferem aos japoneses do que os brasileiros. Normalmente tais pessoas não possuem nem mesmo um amigo japonês e mesmo assim teimam em afirmar que os japoneses são melhores para serem colegas de trabalho. 

Mas qual seria a patologia de pessoas com um pensamento recaldado assim?

Na minha convivência  com japoneses , peruanos, brasileiros descendentes e não descendentes , entre outras raças em todo o periodo que vivi no Japão, posso afirmar que isto é um sintoma de não- aceitação de sí mesmo. Já passei por isto também, não aceitar a minha ascendência.

Pior do que não aceitar a própria ascendência é não aceitar a sí mesmo como é, e promover mudanças onde seja necessário no seu próprio comportamento. 

Nunca ouvi um brasileiro não descendente de japoneses dizer que preferem os japoneses do que os compatriotas nikkeis. Podem existir divergências de caráter, afinal, cada pessoa é um ser singular e no Japão estamos expostos a todo tipo de stress, mas afirmar que prefere um japonês do que um compatriota e criar dentro de sí mesmo tal separatismo  racial é coisa de gente mal resolvida.

Sempre vai existir um, em algum lugar em terras nipônicas, os recalcados de carteirinha. Paciência é oque nos resta quando topamos com pessoas assim. Não adianta querer fazer um recalcado compreender o seu erro, ele sempre terá uma visão totalmente distorcida da própria realidade. 

Merecem pena...