quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A viagem



Alguns dias antes da minha partida estava tentando escrever um texto sobre os meus sonhos de adolescente, o de viajar  o mundo. Parei para refletir e percebi que já viajei muito e conheci muito mesmo sem nem me dar conta. O meu sonho era o de viajar pelo mundo em uma excursão sem destino certo , assim como naquele desenho animado "volta ao mundo em 80 dias".

 Bem, as minhas idas e vindas não foram em 80 dias ,mas a volta ao mundo já aconteceu várias vezes, afinal, viajar do Brasil ao Japão é uma verdade volta ao mundo com todas conexões que fiz por vários continentes , creio que posso dizer que já estou realizando  o meu sonho de adolescente ha muito tempo e nem percebi. 

Estados Unidos, Emirados Arabes, Finlandia, Milão, Roma, Veneza, Frankfurt, e sei lá mais quantos aeroportos, sem contar as minhas idas e vindas para a Suiça , passando sempre pela Itália em voos de conexão, de carro ou em moto. Viajei pra caramba , conheci tantos lugares, tantas culturas e nem percebi. 

Desta vez o meu voo com conexao em Stambul na Turquia me guardava mais uma surpresa, uma estadia gratis em um hotel de Stambul. Meu voo chegou atrasado e eu perdi a conexão para o Japão, aquilo que seria um grande inconveniente se tornou em mais um passeio por terras estranhas . 

Um dia inteiro no lado oriental da Turquia com tudo pago pela companhia aérea, incluindo café da manhã, almoço , jantar e traslado até ao aeroporto. Para aproveitar a "má sorte" contratei um tour pela cidade e fui conhecer o estreito de Bósforo. O passeio era quase todo por mar ( entre o mar negro e o mar de Mármara) , mas aquilo que eu queria ver mesmo era o povo turco andando nas ruas. 

A Turquia é linda, tudo parece transpirar história , mas o lado oriental é um pouco cinza demais, ou seja, as pessoas usam muitas roupas escuras  e o numero de homens andando nas ruas é bem maior do que o de mulheres, vi apenas algumas mulheres andando sozinhas nas ruas sem aquele lenço na cabeça o tal do hejab, mas não sei dizer se eram turcas ou de uma outra nacionalidade, turistas é que não eram. No trajeto de volta ao hotel havia muito, mas muito trânsito e em alguns pontos do suburbio da cidade pude notar a pobreza desse povo, parecia que eu estava vendo a favela da roçinha turca . Dizem que o lado ocidental é completamente diferente e muito mais cosmopolita , ainda não tive a oportunidade de conhecer. Quem sabe um dia!

Ah, um detalhe que percebi na equipe do hotel e até mesmo no voo da Turkish, os turcos adoram o Brasil, pelo menos foi o que eu percebi. 

Enfim, quanta aventura e quanta coisa se pode viver em apenas um voo de conexão quando o coração é aberto para o novo e sabe apreciar as pequenas surpresas da vida. Fiz amizades no voo , conversei em espanhol , italiano , e vejam só, me virei bem com o meu inglês básico tanto no hotel quanto no aeroporto , e de quebra servi de interprete para outros brasileiros. Tô podendo!

Fiquei muito orgulhosa de mim mesma, o meu ingles é péssimo, mas a minha vontade de me comunicar com as pessoas , unida a necessidade do momento em me virar e ajudar a outros conterrâneos que cruzaram pelo meu caminho foi maior do que a vergonha de falar errado . E olha que eu falei errado e entendi errado várias vezes, mas a satisfação de poder ser ùtil para aqueles que não se comunicavam nem em inglês de Tarzan e nem em japonês foi imensa!

Encerrei o meu ano de 2015 com chave de ouro. E que 2016 venha com tudo novo, não apenas nos acontecimentos corriqueiros como também nos meus relacionamentos e principalmente na minha postura e mentalidade em relação a vida com todos os seus imprevistos e oportunidades. 

Hotel Marriot em Stambul - Turquia 


Vista da cidade , ao fundo a ponte que divide as duas Turquias. 

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Anjo mau



Quem possue a Lua em Escorpião sabe muito bem que manter a calma é sempre uma tarefa muito difícil. Por mais que eu me policie, tem vezes que sei lá de onde vem aquela ira incontrolável, seguida de atitudes intempestivas . Meu Deus! O pior de nós nunca melhora com o passar do tempo, ela pode ficar camuflada em algum lugar, mas ela não melhora. Tem até logica ne! Como é que o pior pode ser melhor, ou menos pior?

As vezes tenho vontade de regredir todo este meu processo de autoconhecimento e busca por harmonia e espiritualização pra voltar a ser a "selvagem" que sempre fui. Estou começando a sentir falta desse meu lado selvagem e ruim. Não dá pra ser ruim pela metade, é como frear o carro a 100 p/h , dar aquela engasgada e deixar o motor morrer. 

Na minha busca por harmonia e equilibrio andei matando um pouco de mim à cada dia. É serà que isso é mesmo necessário? Matar um pouco de sí para harmonizar com o meio em que vivemos?

As vezes eu penso que nada disso vale a pena, e que nós deveríamos  ser exatamemte aquilo que somos . Se você é rude, continue rude, se você é egoísta continue assim, e se você é do mal continue assim, porque não existe nada pior neste mundo do que se sentir uma metade de sí mesmo. Portanto, se você for ruim, seja ruim à 100%, pra depois não ficar se sentindo um "babaca" dando uma de bonzinho, e indo contra a sua natureza. 

Conselho, seja sempre você mesmo. Aceita que dói menos!

domingo, 20 de dezembro de 2015

Amor verdadeiro



Há anos venho tentando escrever algo sobre o tal do "amor verdadeiro" e nunca consigo. Claro, para escrever sobre este assunto é preciso ter vivido tal experiência ou no minimo ter uma alma poética. Infelizmente no meu caso , nem uma , nem outra . 

Por um tempo até acreditei que o "amor verdadeiro" pudesse acontecer para mim, mas com o passar do tempo percebi que o tal "amor verdadeiro" que eu tanto desejava era um conto de fadas. A minha idēia de um "amore vero" era muito novelesca , ou seja, a minha experiência no amor era praticamemte nula e aquilo que eu aprendi foi nas fotonovelas dos anos 80 e nos desenhos da Disney.

Custei a entender que o amor vem da capacidade de amar de cada um, e que ele nunca vem de presente pra ficar pra sempre. O amor oscila e nem sempre é incondicional.

Amor de maē, tão pouco é incondicional . Ilude-se quem pensa que todas as maēs são programadas para amar aos seus filhos incondicionalmente. Não questiono o instinto maternal de salvar um filho em risco, de dar a propria vida , mas no dia-a-dia a coisa é bem diferente. Amor de um filho pelos pais então, piorou. O amor que damos depende muito do amor que recebemos ainda no ventre materno. 

O amor verdadeiro existe sim, mas nem todas as pessoas são capazes de cultiva-lo simplesmente pelo fáto de nunca terem provado dele. Pior ainda quando se trata de uma pessoa que além de ter nascido no seio de uma familia fria ainda tem o azar de nascer com a Venus em Capricornio. 

Em algum momento da vida eu achei que não era capaz de amar a ninguém incondicionalmente, afinal de contas, nasci em uma familia japonesa e ainda de quebra Capricorniana. Juntou a frieza nas expressões de afeto com a racionalidade Capricorniana e deu no que deu. Nunca amei ninguém na vida, na verdade eu achava que amava, mas era só apego, paixão e alguns equivocos.

Fui aprender só um pouquinho sobre o amor no convivio com um pequeno ser de quatro patas que entre lambidas, abanos de rabo e rosnadas , me ensinou o que é o amor incondicional e a lealdade. 

Até o momento ( e olha que eu ja vivi muito) , é apenas este pequeno ser de quatro patas que conseguiu encher os meus olhos de lágrimas de saudades. É também o único ser vivo que quase quebrou a pata ao pular de uma cadeira e correr em minha direção quando me viu chegar. É o único ser vivo que me olha fixo nos olhos , como se quisesse me desvendar e depois simplesmente deita a cabeçinha no meu ombro e suspira. 

Será que um dia serei capaz de sentir tanto amor assim por um ser com menos de quatro patas? Acredito que não. O amor e a lealdade dos caēs é muito diferente do amor humano, e talvez o ser humano nem seja capaz de tanto amor assim . O ser humano é muito ocupado e nem caberia em sí de tanto amor, seria quase um idiota.

Conclusao: existem amores e amores. Comparar o amor daqueles pequenos seres de quatro patas á capacidade de um ser humano de amar é covardia. O ser humano é o único animal racional, portanto, nunca poderá amar como os anjinhos de quatro patas. Razão não combina com amor. 

O ser humano sempre irá nos decepcionar ou impor condiçōes em algum momento, e isto é o normal. Anormal é viver sonhando com contos de fadas e querer amar a alguém feito um ser de quatro patas.


Partir é preciso



Tudo corria aparentemente bem, só que não. 
Faltando apenas uma semana para a minha viagem de regresso ao Japão e o inevitável aconteceu. Mais uma discussão familiar. E tudo o que eu queria era me despedir de todos , assim, como quem vai até Atibaia e volta logo. 

Despedidas são imensamente tristes e em algumas ocasiões , ao menos para mim, traumatizantes. Tento ao máximo evitar que familiares proximos estejam no aeroporto porque é doloroso demais, mas por muitas ocasiões fui mal interpretada, taxada de fria e indiferente por querer sempre ir embora sozinha, pegar um taxi, um ônibus executivo e dizer adeus apenas para as paredes e o portão de embarque. 

Para nós que vivemos do outro lado do oceano, por vontade própria ou por falta de escolha, desapegar-se de quem fica se torna crucial para a própria saúde fisica e mental. Costumo dizer que criei uma couraça, uma casca grossa para suportar a distância e a solidão de viver longe, bem longe de onde viemos. Apesar desta couraça, e de tantas idas e vindas , ainda é muito triste partir. 

Quando partimos sempre deixamos algo para trás, não importa se foram apenas paisagens, pontos turîsticos , amigos ou familiares. 

O dia do meu tão esperado embarque está chegando, e por mais que eu esteja habituada a administrar friamente e racionalmente as minhas idas e vindas, o meu coração ainda fica muito apertado. 

Eh, se tem uma cena na minha vida que parece verdadeiramente tirada de uma novela dramática mexicana, esta cena é a do embarque no aeroporto. Estranhamente, aquela sensação dolorosa do "partir" vai se amenizando quando entramos no avião. Pelo menos para mim, tem gente que começa outro drama dentro do vôo. Para mim é como se fosse um divisor de àguas e lá no portão de embarque vou me despindo de tudo que ficou e me preparando para o novo. Sei lá, assim é mais fácil administrar a dor de partir. Não penso em quem ficou, penso apenas em quem irei reencontrar . 

Pior do que ter que administrar a dor de ter que partir , é partir com o coração despedaçado após conflitos    familiares, sempre vai doer mais para aquele que partiu sozinho, podes crer. 

Mais uma vez terei que usar o meu divisor de àguas , o portão de embarque, para deixar um pouco desta dor para trás, nas paredes , nos corredores . Visto então, a minha couraça ( casca grossa) e sigo em frente, sem olhar para tràs. Uma lágrima sempre escorre pelo rosto, é de praxe...mas ninguém vê, só as paredes do embarque.