domingo, 20 de dezembro de 2015

Partir é preciso



Tudo corria aparentemente bem, só que não. 
Faltando apenas uma semana para a minha viagem de regresso ao Japão e o inevitável aconteceu. Mais uma discussão familiar. E tudo o que eu queria era me despedir de todos , assim, como quem vai até Atibaia e volta logo. 

Despedidas são imensamente tristes e em algumas ocasiões , ao menos para mim, traumatizantes. Tento ao máximo evitar que familiares proximos estejam no aeroporto porque é doloroso demais, mas por muitas ocasiões fui mal interpretada, taxada de fria e indiferente por querer sempre ir embora sozinha, pegar um taxi, um ônibus executivo e dizer adeus apenas para as paredes e o portão de embarque. 

Para nós que vivemos do outro lado do oceano, por vontade própria ou por falta de escolha, desapegar-se de quem fica se torna crucial para a própria saúde fisica e mental. Costumo dizer que criei uma couraça, uma casca grossa para suportar a distância e a solidão de viver longe, bem longe de onde viemos. Apesar desta couraça, e de tantas idas e vindas , ainda é muito triste partir. 

Quando partimos sempre deixamos algo para trás, não importa se foram apenas paisagens, pontos turîsticos , amigos ou familiares. 

O dia do meu tão esperado embarque está chegando, e por mais que eu esteja habituada a administrar friamente e racionalmente as minhas idas e vindas, o meu coração ainda fica muito apertado. 

Eh, se tem uma cena na minha vida que parece verdadeiramente tirada de uma novela dramática mexicana, esta cena é a do embarque no aeroporto. Estranhamente, aquela sensação dolorosa do "partir" vai se amenizando quando entramos no avião. Pelo menos para mim, tem gente que começa outro drama dentro do vôo. Para mim é como se fosse um divisor de àguas e lá no portão de embarque vou me despindo de tudo que ficou e me preparando para o novo. Sei lá, assim é mais fácil administrar a dor de partir. Não penso em quem ficou, penso apenas em quem irei reencontrar . 

Pior do que ter que administrar a dor de ter que partir , é partir com o coração despedaçado após conflitos    familiares, sempre vai doer mais para aquele que partiu sozinho, podes crer. 

Mais uma vez terei que usar o meu divisor de àguas , o portão de embarque, para deixar um pouco desta dor para trás, nas paredes , nos corredores . Visto então, a minha couraça ( casca grossa) e sigo em frente, sem olhar para tràs. Uma lágrima sempre escorre pelo rosto, é de praxe...mas ninguém vê, só as paredes do embarque.

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