Sempre incentivo todos os meus amigos a conhecerem novos mundos, novas culturas, e não somente fazer turismo, mas interagir com uma cultura totalmente diversa daquela de onde fomos criados para aprender a questionar a "verdade". Eu que cresci em terras brasileiras , dentro de uma família japonesa já sei o que é viver divergências culturais dentro da nossa própria casa.
Brasileiros de origem japonesa que viveram no Japão sabem muito bem o que é sentir o preconceito de ter nascido em uma família japonesa porém em terras brasileiras. Nem japoneses e nem brasileiros. Isso deve ocorrer também com os chineses que nasceram no Brasil , mas a diferença entre japoneses e chineses é que eles não se misturam de forma alguma, ao contrário dos japoneses que imigraram em terras americanas e se missigenaram com outros povos.
Eu, que vivi a experiência de ser estrangeira no país do meu próprio pai (japonês legítimo) e vivi também o preconceito de portar o passaporte verdinho em terras europeias, me sinto no direito de expressar a minha opinião e a minha indignação com relação à ignorância de certas pessoas. Sejam elas de origens tupiniquins ou europeias.
Na europa algumas pessoas "ainda" tem uma idéia estereotipada do brasileiro, ou seja, o brasileiro é de cor parda , sem muita cultura , samba muito bem , é malandro por natureza . E as mulheres? Quase todas tem o bumbum arrebitado, são fúteis, fáceis e mascam chicletes.
Eu não sou parda, sou amarela, não tenho o bumbum arrebitado mas não sou reta, fútel só quando me convêm e mascar chicletes jamais. Então , eu não me enquadro no estereótipo da mulher brasileira, mas também não me enquadro no estereótipo da mulher japonesa. Quando eu falo da mulher japonesa é aquela que nasceu, cresceu, viveu, e morrerá no Japão e tem o passaporte vermelhinho. Que fique bem claro isso. Cansei de ter que explicar as minhas origens desde que começei a viajar e por mais incrível que pareça, depois que voltei ao Brasil, algumas pessoas ainda me perguntam se eu nasci no Japão. Isso nunca aconteceu comigo antes do Japão.
Então, fico aqui pensando com os meus botões...Mas será que o povo brasileiro é tão ignorante assim, ou desmemoriado? Quem é que não sabe que mais de 300 mil brasileiros de origem japonesa, foram trabalhar no Japão como dekasseguis e que depois da crise mundial uma boa parte deles está retornando para casa?Santa ignorância.
Ou será que eu voltei , após 8 anos de Japão muito mais japonesa do que antes?Pode ser também.Será que eu estou com sotaque japonês e não percebí?
Normalmente quando vivemos este tipo de experiência (viver dentro de outras culturas) sempre regressamos um pouco diferentes. É claro. Isso é normal.
Eu por exemplo, voltei super hiper educada, mas já perdi um pouco da minha educação no convivio com gente menos educada. No Japão aprendi a duras penas a respeitar os costumes japoneses, e na Suiça levei muita bronca, mas muita bronca mesmo, por ser pouco educada para os padrões da classe média européia. Cheia de frescuras e convenções também.
Diversidades culturais à parte, eu nasci em uma familia humilde, nunca frequentei os melhores colégios e nem tão pouco passava as férias escolares em Orlando. Portanto, me poupem de pré-julgamentos sobre a minha nacionalidade, o meu passaporte, a minha educação e a minha pátria. Eu sou é viajada, só isso!
E tem mais, não é porque tenho nas veias o sangue samurai que sou "assim", ou sou "assada". Apesar de estar na minha herança genética. Eu sou é chata mesmo!Capricorniana da gêma.
Gente! Parece que não faz diferença alguma e que retornar ao nosso país de origem é a coisa mais natural do mundo, mas cá entre nós, após viver outras culturas fica muito complicado aceitar certas "indelicadezas" alla brasileira. Acho que faltou eu andar um pouco pelo Kuwait, Irã, Iraque , Afeganistão e outros países do Oriente Médio só pra equilibrar essas diferenças culturais.
Em breve, Se Deus permitir, estarei em um pedaço de chão que não pertence a ninguém, com povos de todo o mundo . Será mais um sonho realizado, e não vou poder reclamar de ninguém. Só aqui, no meu "Desablog".Vou reclamar muuuuuitoooo!
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