Este post não foi escrito para pessoas que sonham em um dia conhecer o japão, pois foi escrito por uma pessoa que nunca nem sonhou em conhecer este país, e que sonhava em viver na Europa. Portanto, o meu ponto de vista é de quem vive e trabalha dentro da realidade japonesa. Nada de mangás, nada de artes marciais, cosplay , e interesses culturais ou tecnológicos.
Sonhos, isto mesmo. O post de hoje é sobre idealizações. Quando carregamos no peito aquele sonho de adolescência e a realidade se faz muito, muito diferente.
Ontem conversava com um amigo no messenger. Ele dificilmente me escreve por pura falta de tempo, mas sempre que está meio aflito sempre me procura. Ele é italiano, de Roma, casado com uma japonesa que é cantora de ópera, e tem uma filha de 4 anos.
Quando eu o conheci através do Skype , ele procurava pessoas para aprender o japonês, porque namorava uma japonesa e sonhava em um dia viver no Japão. Isto hà uns 6 ou 7 anos atrás. Ele me falava de "sonhos" , de mangás, desenhos animados japoneses e de seu interesse por praticar alguma arte marcial em terras nipônicas.
Em plena crise global, por volta de 2009 , ele decidiu largar seu emprego na Al'italian ,pegar suas poucas economias e encarar o seu sonho de viver no Japão. Casou-se com a japonesa ( meio a contra-gosto dela) , em plena crise global e decidiu apostar em seus "sonhos".
Todo sonho quando começa a se tornar realidade tem lá os seus momentos de realidade prática, que quase sempre são muito duras , e não perder o foco nestas horas é imprescindível para o sucesso de qualquer sonhador.
O meu amigo italo-sonhador perdeu o foco e se deixou engolir pela rotina japonesa de dedicação total ao trabalho. Nada de mangás, nada de aperfeiçoar o idioma japonês, nada de tempo para artes marciais . Enfim, o coitado não tem tempo pra mais nada , perdeu uns 20 kilos e ainda tem que pensar no futuro da sua filha , sendo que nem o proprio futuro ainda está definido. Se ferrou!
Nestas horas eu fico pensando...
A vida aqui no Japão se faz muito limitada para nös nipo-brasileiros , que viemos também em busca de nossos sonhos. Porém, a diferença é que quase toda a grande maioria de nipo-brasileiros nem sonhava em um dia vir ao Japão por outros interesses a não ser por trabalho, e muitos sofrem com esta rotina de dedicação apenas ao trabalho.
Percebí com o caso do meu amigo italiano , que ao contrário de nós , nipo-brasileiros, ele veio ao Japão atrás de sonhos de adolescência , e a realidade no Japão não se fez tão diferente assim.
O seu cotidiano é de muitas horas de trabalho, poucos amigos, pouco lazer, e muitos impostos para pagar.
Foco. Esta é a palavra chave para que um sonho se concretize . Não perder o foco é muito importante quando pretendemos viver nossos sonhos em terras estrangeiras. Não importa se aqui no Japão, na Alemanha, ou em qualquer outro país.
Pela minha experiência, eu creio que ter uma vida "normal" em terras nipônicas é mais complicado porque a sociedade japonesa e o sistema japonês é muito voltado ao trabalho, e se você está disposto a se submeter sem ressalvas a esta filosofia de vida com consciência dos desafios que encontrará pelo caminho, as coisas se tornam "menos" difíceis.
Sair na sexta-feira a noite para fazer um happy hour com os amigos , nem pensar. Nem todo mundo tem o mesmo horário de trabalho e folgas. Este tem sido o meu maior problema para reencontrar o meu aflito amigo italiano. Ele folga no meio da semana, enquanto eu, no momento, folgo em dias alternados. Creio que nos reencontramos uma vez ao ano, ou de dois em dois anos.
E as paqueras? Se você é seletivo como eu , então está fadado a solidão.
Começar um relacionamento afetivo com um japonês, sendo estrangeira, é muito complicado. Eles, os japas são muito tímidos, e por mais que a relação pareça ir bem, chega um ponto que você já não sabe mais como agir. Pelo menos para mim, é muito difícil entender o quê um japa espera de uma relação com uma estrangeira. Alèm do mais, a mentalidade japonesa é muito, muito diferente da nossa. É preciso estar muito aberto para viver tais diferenças e não se desanimar .
A mesma dificuldade ocorre nas amizades. Já tive muitas colegas japonesas, muito legais, divertidas e super atenciosas, elas me visitam (quando dá) , me escrevem no facebook, mas pouquissimas me convidam para passar um dia em suas casas. Dá a impressão de que elas tem vergonha ou querem esconder algo, sei lá. Tenho apenas uma amiga japonesa que nem liga para essas coisas porque simplesmente adora brasileiros e já esteve no Brasil.
Uma vez, uma amiga minha japonesa me perguntou se nös brasileiros temos o hábito de convidar amigos para adentrar pela nossa casa. Eu respondi que sim, e ela ficou surpresa . Japoneses não costumam mostrar todas as dependências da casa para visitas. É aquele tal costume antigo de esconder as coisas , que é típico de japoneses. Assim como demonstrações de afeto em pùblico.
Enfim, este é um país muito, muito diferente de tudo o que se pode imaginar. Fantástico em termos tecnológicos, riquissimo em cultura milenar, e muito interessante em vários aspectos. Porèm, vivencia-lo todos os dias não é coisa fácil, nem para os jovens japoneses que parecem ter uma mentalidade mais ligth que os mais velhos, mas ao mesmo tempo mais vazia . Imagine então, para nös estrangeiros.
Segundo o meu ponto de vista, o Japão é um país de riquissima cultura e de grandes contradições, onde o velho se faz muito presente, oprimindo o novo. Fato este, que fez o Japão perder o seu posto de segunda maior economia mundial.
Sonhos? Será que os japoneses tem?
Segundo uma pesquisa de um programa de tv japonês, esta seria a segunda razão para não desposar uma japonesa. A alegação é de que tais sonhos pessoais poderiam interferir no matrimônio.
Deu para perceber o quanto este país é diferente?