quarta-feira, 13 de abril de 2016

Diga-me com quem tu andas ...




É aquele velho papo , dependendo de com quem você convive o seu mundo vai se moldando  a sua realidade. A vida aqui em terras nipônicas nos obriga a conviver " de igual para igual " com pessoas de  todo o tipo, desde os japoneses com sua cultura e lingua totalmente diferenciada a dos ocidentais , até aos brasileiros (descendentes ou não, de japoneses) que vem de todas as partes do Brasil . 

Algumas poucas pessoas que conheci aqui em terras nipônicas eram originárias de regiōes do norte do Brasil, outras tantas do sul do Brasil, aquelas com quem eu me identificava mais (naturalmente) eram as pessoas provenientes da grande São Paulo. Paulistas e paulistanos tem uma característica peculiar que nos fazem sentir um pouco em casa, as piadas são as mesmas, o sotaque é inconfundível e até mesmo a aparência , preferências culinárias e hábitos do dia à dia. Assim fica fácil saber com quem se está lidando ne!

Quanto as pessoas provenientes do norte do Brasil, algumas do Pará, já percebi uma certa dificuldade    de encontrar afinidades. Os costumes eram diferentes, o caráter, e até mesmo o gosto culinário. 

O mais engraçado de quando conhecemos um brasileiro aqui em terras nipônicas é que ninguém te pergunta o que você fazia no Brasil, ou seja, tanto faz, se você tem formação universitária e fala vários idiomas porque aqui todos somos iguais. É como se fechassem a porta do desembarque do aeroporto e aquilo que você era antes do embarque não fizesse mais a minima diferença. De agora em diante você é o brasileiro numero 1 , numero 2 , e assim por diante. 

Algumas amigas peruanas que tenho são de origens bem definidas , a maioria de cidades do interior do Peru , seriam as caipiras peruanas com formação universitária , ou no minimo técnica. Ja conheci ex-secretárias, ex-fotografos jornalisticos, ex- psicólogas, ex- engenheiros , que pela falta de oportunidades em seu país , trabalhavam como taxistas ou possuiam vendinhas do tipo armazem em suas cidades. Apesar de seus títulos , estes peruanos se despiam de seus titulos e metiam a mão na massa como simples operários. Muitos ainda agradeciam pela oportunidade de terem uma vida financeira digna em terras nipônicas, apesar de terem jogado fora os seus titulos para exercerem a mera função de operários de fabrica em terras estrangeiras. 

Por mais estranho que pareça, eu me identifico muito mais com as minhas amigas peruanas do que com os brasileiros, e a razão é apenas que, culturalmente são mais bem definidos e mais ricos do que os brasileiros. Claro que nem todos o são, mas as amizades que fiz por aqui me acrescentaram muito.  

Uma das minhas amigas peruanas , que inclusive foi casada com um brasileiro me perguntou o porquê dos brasileiros não se identificarem como "latinos", já que o Brasil se localiza na America Latina. Fiquei sem resposta . Eu sendo filha de japoneses imigrantes nem me julgo latina, talvez ela devesse fazer esta pergunta para alguém que tenha ascendência espanhola , com mezclas entre indígenas e africanos. Vai saber. 

É muito dificil definir o povo brasileiro por sua miscigenação e origens de regiões completamente distantes. Eu mesma não conheço nenhuma cidade ao norte do Brasil e sua herança cultural, a não ser , aquilo que aprendi na escola , ou pela convivencia com aqueles que se deslocaram do norte e do nordeste do Brasil para São Paulo em busca de trabalho. Eles mesmos dizem que as diferenças de comportamento do povo do norte e nordeste é muito diferente do comportamento de paulistas e paulistanos. Eu também percebo isto. 

Bem, o que eu quero relatar aqui ( o texto ficou muito grande) , é que aqui em terras nipônicas é frequente acontecer conflitos armados entre brasileiros justamente pelo fato do brasileiro ter preconceito de ser brasileiro com ascendência nipônica e na pråtica não ser nem uma coisa e nem outra. Muita gente pira com estes preconceitos silenciosos. Além deste motivo, existe a tal da diferença de vivências. Um era agricultor no interior de alguma cidade brasileira, outro era bancário, outro veio de uma familia de comerciantes falida e nunca havia trabalhado no Brasil, e assim por diante. Cada qual com as suas vivências, cada qual com as suas histórias, e como aqui em terras nipônicas ninguém pergunta quem você era antes do desembarque em terras nipônicas  fica  esta grande lacuna entre pessoas de várias origens nacionais e vivências tendo que conviver em um ambiente fechado e cercado por maquinas por todos os lados. 

Confesso que tenho que me violentar muito para conviver em paz com pessoas que nada tem em comum comigo, ou que nada tem a me oferecer para o meu desenvolvimento como pessoa. Fico as vezes pensando que é uma dificuldade da idade e da mentalidade da grande maioria brasileira que vive aqui em terras nipônicas. Não conheci uma alma que tenha interesses diversos , além de trabalhar, e se afundar na rotina de trabalho, casa, dormir, sair para almoçar fora , e viver uma vidinha limitada. Ninguém lê um livro, ninguém tem um hobby específico, ninguém tem interesse em aprender a lingua local , apesar de viverem hà anos em terras nipônicas e de nem fazerem planos para o retorno. Tem gente até que estuda inglês em casa e não fala nem 10% da lingua local. Pior ainda , são aqueles que pretendem retornar ao Brasil ( um dia, não se sabe quando) , mas nem sabem das ultimas noticias sobre a politica e economia do Brasil. Claro que não são todos, alguns tem planos bem definidos , apesar de pouco palpáveis e arriscados para uma pessoa que viveu durante muitos anos fora do paìs e não se atualizou durante os anos passados em terras nipônicas. 

Não sei dizer se me incluo neste padrão de comportamento do brasileiro descendente que vive em terras nipônicas, talvez na pratica sim, e eu nem perceba . Talvez eu nem faça parte deste mundo real por não ver nem graça e nem estimulo, e acabo sempre pendendo para o meu mundo interior ou virtual, que aliás, é bem mais rico do que aquilo que percebo aqui em terras nipônicas. 

Como em um video que asisiti do Porta dos Fundos  que um advogado falido postava fotos incriveis ( foto-montagem) em seu facebook, mas na vida real ele batia ponto em uma esquina como mendigo, e quando questionado por um amigo que o encontrou nas ruas de como andava a sua vida , ele respondeu: - A vida virtual está ótima! A vida real uma bosta!

É meio assim que me sinto em terras nipônicas, mas se um dia a vida virtual era coisa de louco e de gente descocupada ,  hoje em dia não é mais. Relacionamentos começam no virtual, notìcias se atualizam no virtual, diários de vida hoje tem formato blogger, vlogger, snapchat, stagram, twitter e muito mais. Aprende-se muito com dicas em sites e videos do youtube. 

Enfim, hoje em dia , quem não aprendeu a se comunicãr virtualmente e a se antenar com o universo de informaçōes existente é um completo alienado. 

E terminando este texto que ficou muito longo e saiu fora daquilo que eu pretendia escrever, a minha melhor  companhia aqui em terras nipônicas tem sido "eu mesma" , e o Doutor "Google" que sempre acrescenta um algo mais , no minimo como conhecimento, além de novas portas que se abrem para nossas vidas através de um simples click em algum link. 


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