terça-feira, 7 de abril de 2020

Altos e baixos do periodo



Desde que começou essa loucura do Corona-virus tenho tentado manter a minha calma e tranquilidade . Afinal, os numeros ainda estão bem baixos por aqui. Também estou tentando não ficar tão ligada nos noticiàrios , mas não tem como ignorar a situação. Se a preocupação não è apenas por nós , tem a familia e os amigos lá do outro lado do mundo. Como ignorar esta realidade e não perder a tranquilidade?

Hoje foi o primeiro dia que me bateu uma angústia , daquelas que não dá pra fingir. Cheguei calada no serviço e todo mundo notou que eu estava meio pesada. Não conseguia puxar conversa com a japonesada como eu sempre faço quando chego no trabalho. Até vieram me perguntar se eu estava me sentindo mal . Inventei uma desculpa e disse que não dormi bem e estava meio sonada. Menti pra disfarçar a minha angústia . Ambiente de trabalho não é local pra despejar as nossas angústias.

Na realidade , faz semanas que pedi aos meus chefes que providenciassem algum desinfetante para deixar no refeitorio . Todos  os dias entro no refeitorio na esperança de que alguém tenha providenciado ao menos água sanitária ou sabão para lavar as mãos , mas infelizmente ninguém està preocupado . É triste ver aquele frasco de alcool vazio em cima da mesa do refeitorio . Todas as vezes me bate um sentimento ruim ao perceber que ninguém está preocupado em previnir uma possivel contaminação nas dependencias do predio. Eu levo o meu proprio sabão e toalhas embebidas em alccol . Estou pensando em comprar agua sanitaria e levar para deixar no refeitorio. Mas, quem vai usar? Ninguém! Japoneses não gostam de nada complicado . E se não podem passar nas mãos não irão utilizar. Daí me vem  um outro sentimento , o de impotência.

Serà que estou exagerando com o cuidado e a prevenção? Serà que estou neura demais?

Os números de contaminados vem aumentando lentamente aqui na minha cidade . Ainda são poucos ,
cerca de 20 pessoas no estado todo. Mas, a cada dia que passa um contaminado é de uma cidade mais proxima . É como se o cerco estivesse se fechando  lentamente . Aí vem um outro sentimento, a agonia.

Seria melhor ignorar os numeros ? Para manter a sanidade mental? Afinal , são poucos ...ainda.

Ainda não cheguei ao ponto de estar desesperada e sem fé, mas esse passo lento dessa "coisa" vem provocando em mim um medo que eu nunca senti na vida. Nem sei descrever em uma unica palavra. Seria uma mistura de angústia, temor, agonia e impotência.

Amanhã tenho um exame de saúde obrigatório para fazer na fabrica . E novamente sou tomada por um outro sentimento que tao  pouco sei descrever . Perdi a confiança total no modo como os japoneses lidam com este inimigo invisível. E talvez seja este o problema dos japoneses em geral. Não crer naquilo que é invisível aos olhos.

Resumindo, estou com mais medo do descaso dos japoneses do que do proprio vírus. Daí vem um outro sentimento, a frustração.  Claro que nem todos são assim totalmente alienados , mas a grande maioria ignora a prevenção , acreditando que com eles não ocorrerá nada. Assim como quando houve o tsunami de 2011 . Muitos japoneses nem sairam de suas casas achando que as àguas passariam bem longe. Alguns sairam de casa no último momento quando o tsunami já tomava o quarteirão inteiro. E não foi por falta de aviso. Assim será com a Pandemia também. Não há como mudar a mentalidade dos japoneses quando o assunto é se prevenir contra um inimigo invisível.


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