quinta-feira, 12 de março de 2020

Corona virus no Japão e o power harassment



Em tempos de "pandemia" com o Corona- vírus , o governo japonês tem se mostrado pouco preocupado com a situação. Pelo menos é esta a impressão que temos vivendo o dia à dia aqui em terras nipônicas.

O ministro Shinzo Abe foi muito criticado por seus opositores por não tomar atitudes mais rápidas para conter a proliferação do virus no país. A poucos dias Shinzo Abe se pronunciou em cadeia nacional orientando as escolas a suspenderem as aulas até as férias de abril. Porém, cada provincia teria a autonomia de decidir se suspendem as aulas ou não. A proibição de entrada no Japão de pessoas vindas da China e da Coreia também foi bem tardia , à partir de 9 de março 2020.  O que provocou uma grande deslocação de pessoas vindas da China e Coreia para o Japão nos dias que antecederam ao decreto.

Aquilo que se percebe no país do Sol Nascente é um certo descaso ou uma lentidão do governo em tomar atitudes mais práticas e eficientes para evitar o aumento de casos no país. A impressão que temos é que em função do avanço controlado e do número de infectados do país ser bem menor em relação a China e a Coréia do Sul ( países vizinhos) ,  governantes japoneses parecem estar esperando  acontecer algo de mais grave para finalmente tomarem alguma atitude mais drástica.

Algumas empresas japonesas também tem demonstrado pouca preocupação com a pandemia mundial. A empresa que eu trabalho , a Asahi Techno Glass ( grande produtora de vidros ) parece não estar muito preocupada com a situação , pois aquilo que vemos são apenas alguns cartazes de orientação para usar máscaras e tossir no braço para não contaminar as mãos. Os refeitorios e banheiros dos prédios estão com falta de alcool e não se sabe quando estará disponível. As reuniões ( meeting) coletivas , sempre com mais de 50 pessoas por mês também não foram canceladas. Eu mesma terei que participar de duas reuniões coletivas em um periodo de menos de uma semana em uma sala fechada e sem ventilação adequada. Não há por parte da direção da empresa nenhuma orientação ou cuidado de reunir um numero controlado de pessoas por reunião. Preocupação zero com a possibilidade de contagio dentro da empresa.

Com tudo isso , entramos em uma outra questão delicada que é o Power Harassment, ou seja , assédio de poder. Um funcionário seja ele fixo ou temporário é obrigado a participar de tais reuniões mesmo contra a sua vontade. Japoneses são habituados a obedecer ordens que venham de cima por sua submissão ao poder hierárquico , mesmo sentindo-se constrangidos . É cultural , e nada se pode fazer a não ser acatar ordens e obedecer com medo de sofrer algum tipo de penalidade ou bulling por parte de seus superiores.

Apesar de ter comunicado aos meus superiores de meu desagrado e temor em participar de reuniões com um um grande número de pessoas em um ambiente fechado , aquilo que ouvi dos meus superiores é que as reuniões não podem ser canceladas porque se trata de assuntos de " segurança" no trabalho . Se para eles a segurança no trabalho é evitar acidentes para não terem que pagar indenizações , para mim a frase " segurança no trabalho" tem mais a ver com a saúde e integridade do trabalhador. Em tempos de pandemia , nenhuma reunião e nenhum cuidado foi tomado por parte da empresa em precaver-se de futuros contagios de seus funcionários.

A imagem do povo japonês pode ser muito boa no exterior , e o avanço pouco acelerado do corona  virus em terras niponicas pode até servir como exemplo para alguns países , mas podem ter a certeza de que isto não é merito de seus governantes  e do exemplo de algumas empresas japonesas.







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