segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Pegar o bonde errado



Logo que regressei ao Japão , após um período de pouco mais de um ano e meio, vivi algumas experiências desastrosas logo no  meu regresso ao país do Sol Nascente, e quando as coisas começam erradas tendem sempre a seguir o mesmo curso . 

 Fui direto para o aeroporto de Kansai  em Osaka e lá no aeroporto já começaram a acontecer algumas coisinhas fora do esperado. Fui a ultima a sair da imigração por que eu não sabia o meu endereço novo e não me autorizaram a entrada no país até que verificassem a direção ( de uma outra cidade) que estava afixada  a  minha bagagem. Fiquei horas esperando com o risco do meu agente me abandonar no aeroporto e eu sem nem saber o meu novo endereço. Graças a Deus o meu agente era um senhor muito paciente e me esperou por mais de uma hora. O aeroporto já estava vazio.

Chegando na minha nova residência e novo trabalho, sofri uma espécie de ijime ( bulling) logo ao ingressar no meu novo trabalho. Claro que eu não suportei o bulling e em menos de 2 semanas me mandei de mala e cuia para Shizuoka , cidade onde vivi por mais de 7 anos , sem nem cumprir o meu contrato de trabalho. 

Eu já vivo no Japão hà alguns anos mas eu ainda não sei me locomover pelas cidades japonesas. Não sei dizer ao certo se é culpa do meu senso de direção ou se são as escritas em kanji que me confundem a mente. Talvez as duas coisas juntas. 

Enfim, fiquei cerca de 1 hora rodando de um lado ao outro na estação de trem de Higashi- Osaka e não conseguia de forma alguma encontrar a plataforma de embarque do trem ( trem bala) . O horário de embarque estava passando e eu entrei no primeiro trem que tinha o mesmo horário que o meu trem em direção a Shizuoka. A porta imediatamente se fechou após o meu embarque, nem deu tempo de me arrepender de ter entrado no trem sem nem averiguar se era o trem certo. Fazer o que? Relaxei e segui viagem.

Procurei o meu assento ( reservado) e me sentei . Ufff! finalmente. Após quase uma hora  de viagem o trem fez a sua primeira parada  e um casal de japoneses ficou parado ao lado do meu assento com o bilhete na mão. Um olhava para a cara do outro, depois olhavam para o bilhete , depois olhavam para o assento e depois olhavam para mim. Não tive dúvidas! Eu estava sentada no assento reservado do casal. Dei o lugar para o casal e fui para o meio do vagão, perto dos banheiros e fiquei lá , em pé. 
Comecei a ler uma tabela de trens , horários e seus destinos. O destino que estava sendo anunciado nos auto-falantes não era o mesmo do meu bilhete. Ai,meu Deus!!

Fiquei alí, imóvel . Passou um fiscal de bilhetes e eu fiquei quieta. Alguns minutos depois passou um outro fiscal, ou o mesmo, vai saber, tudo com a mesma cara. Tomei coragem e perguntei se o destino do trem que eu estava era para Shizuoka, meio que já sabendo a resposta. 

O destino do trem bala era  no sentido contrário do meu trem. Como eu já estava pressentindo desde a hora  que o casal de japas veio tomar o meu assento reservado. Eu estava no trem errado! 

 Tive que esperar o trem passar por  umas 20 estações depois e baldear para a direção contrária, em sentido a Toquio. 

Chegando em Nagoya as coisas já estavam mais claras ( os letreiros estavam em alfabeto romano) , as plataformas não eram tão confusas e não tinha tanta gente assim no embarque. Embarquei no primeiro trem  bala em direção a Toquio e desci em Kikugawa. 


Ahhhh, finalmente em uma estação de trem normal e bem proximo do meu destino em Shimada. Enfim, estava chegando! 

Desci do trem bala e fui para o embarque de trens normais, faltavam apenas umas 5 estações para chegar ao meu destino onde uma amiga minha japonesa me esperava de carro para me levar a uma outra cidade , onde o meu chefe me esperava com a chave do meu apartamento novo , e o cara do gas me esperava também para poder autorizar a ligação. 

Dentro do trem normal, me sentei e relaxei. Meus pés estavam moídos da viagem . Respirei fundo e decidi tirar um cochilinho. Epa! perai! mas eu não estava segurando algo nas mãos? 

Meu Deus! o meu notebook!!!!!

Desci na primeira estação e voltei para trás na estação de desembarque do trem bala, umas 3 ou 4 estações para trás. 

Chegando novamente na estação de Kikugawa pedi gentilmente ao bilheteiro que me permitisse entrar na plataforma de desembarque para ver se eu havia esqueçido o meu notebook na cabine telefônica da estação. O bilheteiro gentilmente me deu livre acesso . 

Inacreditável! o meu notebook estava lá na cabine, do jeito que eu o havia deixado. Ninguém roubou! 

Eu havia esquecido que eu não estava mais no Brasil! Se o meu notebook não estivesse na cabine telefônica com certeza estaria a minha espera na bilheteria da estação. 

Toca voltar a pegar o trem comum em direção a Shimada, desta vez sem errar o trem e com o meu precioso notebook em mãos. 

Cheguei ao meu destino com quase 2 horas de atraso, dores nos pés, nos braços , uma fome de Leão e os olhos vermelhos, que não sei se eram sinal de cansaço ou vontade de chorar. 

Pegar o bonde errado nem é nada quando comparado a pegar o trem bala errado (  270 km p/h) e ainda por cima na direção contrária. 

O Japão é um pequeno arquipélago com uma área terrestre que não é nem um terço do tamanho  da grande São Paulo , mas quando pegamos o trem bala errado as distâncias em kilometros são imensas. A distância entre a cidade onde eu fui parar ( Okayama) e a cidade de Shizuoka è de cerca de 400 km,  e como eu fui e voltei, devo ter feito uns 600 km de viagem no total, mais  um pouco e eu estava chegando em Hiroshima. 

Apesar do desastre de pegar o bonde  errado no Japão, o bonde japonês ( trem bala) se locomove a uma velocidade de 270 km/ h , e mesmo que peguemos um bonde errado no sentido contrário , ainda é possível retornar e chegar ao seu destino no mesmo dia. 

Enfim, se você não está disposto a passear em pé nos trens balas japoneses por mais de 300 ou 400 km na direčão errada. Leia com atenção o seu cartão de embarque , que em geral está escrito em kanji, mas os números são universais. Se direcione pelos nùmeros , ou leve uma bússola e aprenda  a lê-la antes. Eu levei e não me serviu em nada. 

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