terça-feira, 10 de outubro de 2017

Perdendo as origens



Parecia um pedaçinho do Brasil em um espaço de mais ou menos 30 metros quadrados , no meio da cidade. Todos falavam português, alguns até tinham aparência de brasileiros com aquela mescla de raças que nunca se sabe a origem. Uma loura ( nota-se tingida) de vestido curto , rasteirinha nos pés , e uma enorme bolsa da Michael Kours , figura tipica em algumas cidades de São Paulo estava sentada ao meu lado. Horas e mais horas de espera para sermos atendidos. Uma lentidão que me parecia anormal.

Onde eu estava? No Brasil? Nãoooooo!

Eu estava no consulado geral do Brasil em Hamamatsu, no Japão. O mais engraçado é que aquele ritmo e aquele ambiente me incomodou um pouco. Era como se não fosse permitido ser brasileiro naquele metro quadrado. Afinal, estamos no Japão e as coisas aqui são bem diferentes. Confesso que me incomodei até com as meninas de shorts curtinhos e corpo tatuado . No Brasil seria normal ir  a uma  repartição publica vestidindo um shortinho curto ( apesar de eu nunca ter visto em São Paulo) , mas aqui no Japão seria um pouco ofensivo entrar em uma repartição publica trajando um shortinho curto e mostrando enormes tatuagens no corpo. Sei lá! Posso estar sendo careta, mas sou daquelas que acredita que cada situação pede uma postura diferenciada.

Quando eu estive na Europa, eu procurava me vestir e me comportar em publico como a todo mundo, no Japão ocorre o mesmo. Existem algumas ( as vezes muitas) diferenças que eu acredito que devem ser assimiladas por quem vive no exterior, inserido dentro de uma nova cultura. Seria como ir viver no Qatar e insistir em andar de shortinho e blusinha de alça no meio da cidade, ou ir a praia de fio dental. No minimo seriamos advertidos .

Cada país tem a sua cultura e de certa forma devemos nos moldar a ela. Quem realmente estå integrado na cultura local tende a absorver com mais facilidade as diferenças e compreende-las, o que não ocorre com quem vive apenas em comunidades de estrangeiros. Observo muito disto em grupos de chineses pelo mundo que não se misturam com ninguém e vivem andando em grupos.

Por um lado acredito que integrar-se a cultura local, aprender a lingua e os bons costumes locais facilitam em 50% a nossa vida em terras estrangeiras , mas como tudo na vida tem lá os seus prós  e seus contras, ao mesmo tempo perdemos um pouco de nós mesmos. Somos um pouco camaleônicos em cada processo de integração.

Deixei de ser brasileira ha muito tempo. A unica referencia que não quero perder é o orgulho de ser paulistana, e esta parece que está enraizada em mim.

Que Deus conserve a minha referência nerd paulistana porque o resto eu já as perdi.


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