quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A melhor companhia



Passaram-se 6 dias de folgas ( não remuneradas) aqui em terras nipônicas, quando penso no prejuizo em termos monetários fico até meio frustrada . Se fizermos uma conversão de valores em reais dá mais desânimo ainda. No Brasil muita gente não ganha isso nem em um mês. Obviamente que o custo de vida no Japão é bem mais alto e 6 dias de trabalho mal pagam o aluguel de um apartamento de um quarto em Tokio. 

Deixando as frustrações financeiras de lado, apesar do prejuizo no bolso , este periodo foi muito benéfico para mim. Faz uma semana que não sinto dores nas costas, o meu rosto está mais limpo, com menos marcas de expressão ,  e até o meu cabelo está mais brilhoso. 

No inverno japonês eu costumo hibernar e não saio de dentro do meu apartamento por absolutamente nada. Às vezes o céu limpo e azul me convida a sair , mas quando abro a porta do meu apartamento um vento fortissimo que vem sei lá de onde , talvez da Sibéria, me empurra de volta para dentro do apartamento. Verificar a meteorologia e a força dos ventos antes de sair de casa já é um hábito  corriqueiro para mim. Se os ventos estão à mais de 20 km por hora nem me atrevo a sair.

Alguns amigos e colegas brasileiros e japoneses não conseguem entender a minha necessidade e prazer de estar comigo mesma. Talvez se eles soubessem sobre os meus sonhos de adolescência entendessem melhor como funciona este "prazer" de estar comigo mesma. Em parte, sempre fui um pouco anti-social e estar em meio a muita gente desequilibrava as minhas energias. Só fui entender que sou uma antena parabólica que capta as vibrações alheias quando fiz uma imersão em mim mesma. Não sou vidente e nem clarividente , mas a minha capacidade de captar vibrações alheias é bem considerável . 

Enfim, dias de repouso e mente vazia ( na medida do possível) , fiz tudo aquilo que gosto de fazer quando estou sozinha em casa. Muitos videos sobre culturas , estereotipos e linguas estrangeiras não poderiam faltar, escrever sobre minhas impressões , e desenhar. É nestes momentos de ócio que percebo a diferença entre desenhar com técnicas e simplesmente ter o "dom" . 

A pratica do yoga , devo confessar, ando meio preguiçosa e desanimada desde quando percebi que estou fazendo alguns "assanas" com a postura errada. Quando eu voltar ao Brasil quero reencontrar o meu teacher de yoga para que ele corrija a minha prática. 

Ah, quase ia me esquecendo de comentar sobre a última faxina do ano que é costume aqui em terras nipônicas. Joguei sacos e mais sacos de roupas que não uso mais e tirei o pó de todos os cantos da casa. No Japão os japoneses fazem este ultimo "souji" ( limpeza) para buscar o novo ano, mas acredito que muitos japoneses nem o fazem com muita dedicação porque japonês adora guardar coisas velhas . Está aí outra coisa que acredito ser um atraso em nossas vidas, o apego a coisas, pessoas e situações que já não servem mais, ou nunca serviram mesmo. 

Poder estar sozinho , não se entediar com a própria companhia , não sentir a minima necessidade de preencher espaços vazios  e não enlouquecer com o silêncio é uma vitória que alcançei com muitos anos de leituras  reflexivas e a compreensão de mim mesma como essência e não invóluclo. 

Falando assim até parece que eu atingi a iluminação ou o nirvana, mas não é bem assim. São apenas caminhos que estou percorrendo dentro de mim mesma para a libertação de tabus, conceitos, pre-conceitos e condicionamentos limitados que herdamos de nossos pais ou da sociedade . Estou bem longe de ser um ser iluminado. Sou  mais uma pessoa que apenas despertou para as outras dimensões da vida e ainda não atingi o estágio do "compartilhar" com os outros as minhas viagens internas. 

Existe uma ponte que separa os dois mundos , o exterior e o interior , alguns se deparam com esta ponte e simplesmente dão meia-volta por temor a encarar as póprias sombras , outros simplesmente a ignoram por não encontrar nada de interessante em seu proprio mundo interior. Hà aqueles que ultrapassam esta ponte e se deparam com verdadeiros tesouros ainda desconhecidos. 

Estou descobrindo os meus tesouros internos e um ponto muito positivo desta experiência é estar em ótima companhia , comigo mesma. Obviamente que busco também o convivio social ,porém nesta fase não é algo imprescindível . Outras fases virão , com todas as suas incertezas e desafios externos e internos. 

A vida só tem sentido quando ela segue o seu curso com todos os seus dissabores e vitórias sem estagnar ao longo do caminho. 

Bom, chega de interiorizar , hoje é meu ultimo dia de folga , os ventos parecem ter dado uma trégua . Vou  aproveitar para sair às compras e organizar a dispensa  para mais uma semana de trabalho duro. 

Namastê!

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