quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Memória musical


Ontem começei a fuçar na net algumas músicas antigas que não me saem da cabeça. Vira e mexe, lá estou eu cantando algums refrões enquanto trabalho. A japonesada nem liga mais para estas minhas " estranhisses" de cantar e assoviar . Aliás, na cultura popular japonesa não é de bom agouro assoviar   à noite. Eu  não consigo  ficar de boca fechada o dia inteiro, silenciosamente como o fazem os japas , então eu canto sozinha. 

Encontrei videos no youtube das músicas que eu costumo cantar sempre . Não que eu goste destas músicas mas em algum momento da minha adolescência elas devem ter me marcado de alguma forma por que elas simplesmente emergem do nada e com muita frequência somente quando eu estou caladinha trabalhando na minha mesa . 

Fuça daqui, fuça dalí . Encontrei verdadeiras pérolas da minha fase de adolescência em São Paulo. O mais estranho foi constatar que eu conhecia um verdadeiro repertório de músicas populares regionais que me remetem à minha infância e adolescência. Mas eu sou filha de japonês legítimo! Fico me perguntando onde é que eu andava e com quem eu andava naquela época para ter tantas memórias musicais regionais, sendo que meus pais não nos permitiam nem mesmo falar em português dentro de casa?

Obviamente que tenho algumas lembranças de ouvir meu pai cantando em japonês e tocando alguns clássicos da musica japonesa na sua gaita. Eram canções muito melancólicas que falavam da saudade de sua terra natal. Uma que meu pai sonava sempre na sua gaita era " Furusato" , que em japonês significa  casa , mas aquela casa que se refere a cidade natal. 

Entre as minhas memórias da infância e adolescência estão também um mundo de canções italianas e personagens famosos do cinema italiano. 

Afinal, onde é que eu vivia inserida para ter tanta memória musical que nem fazia parte da educaçao rígida  e preconceituosa que recebi de meus pais? 

A resposta está na televisão. Eu me lembro que vivia absolutamente vidrada em todos os programas da sessão da tarde e vivia um mundo à parte da minha realidade . Aquela vida comum , rigida e cheia de convenções não me pertencia e o meu refúgio era a ilusão de viver em um outro mundo à parte. O mundo ilusório da televisão. 

Portanto, chego a conclusão de que eu devo a minha orientação cultural e musical ao "Almoço com as Estrelas" , de Airton e Lolita Rodriguez , e ao Raul Gil. 

" O Raul perguntou, você não acertou ?
Pegue o seu banquinho e saia de mansinho..."

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