segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Lobos solitarios

        
     

Viver em um país diferente não deixa de ser uma escolha solitária. Independente das razões  que nos levam  a cruzar o oceano e a viver à milhas de distância  do nosso país de origem , é frequentemente uma viagem sem volta. Ou com várias voltas. Eu mesma já retornei ao Brasil por várias ocasiões desde 2002 . Da primeira vez tentei a vida no Brasil por longos 8 anos, da segunda vez por 1 ano e meio , e das outras dezenas de vezes por um periodo de trinta dias. Em março de 2018 cumprirei um ano da minha última visita ao Brasil. Quem sabe eu retorne novamente ao final de mais um ano , ou somente quando estiver expirando o meu visto, ou eu renove o visto e não volte nunca mais?!

É justamente nestas datas de final de ano que bate aquele vazio na alma. Ter que ignorar o Natal todos os anos com a desculpa de estar trabalhando é meio frustrante, mas é menos doloroso  do que cair na real e ver que não há um motivo para se comemorar o Natal quando estamos longe da familia. O ano novo é menos sofrido , mas vem junto com aquele vazio que nos causou o Natal sem familia.

Alguns amigos remanescentes de um passado distante ainda se lembram de enviar mensagens natalinas , familares mandam fotos das festas . Seria um motivo de alegria saber que não fomos esquecidos , mas a sensação é estranha. Eles já não fazem mais parte do nosso dia à dia, e nem nós do deles. O unico laço que poderia nos manter atados ao nosso passado distante seria o amor, mas até ele vai se esvaindo com o tempo e a distância. Há um ponto positivo em amar menos a aqueles que deixamos , tão distantes de nossa realidade. Dói menos. Diria até que não doi mais.

Em terras longinguas aprendemos a conviver com a nossa própria sombra . Falar sozinho então, se torna muito frequente, táo frequente ao ponto de ter que olhar para os lados para se certificar que ninguém está nos observando enquanto tagarelamos com a bicicleta, a bolsa, a chave do carro, o poste.

Amigos em terras estranhas? Estes são tão ou mais solitários , quando também são estrangeiros. Familias inteiras vivem somente entre eles. Muitas amizades começam à partir da solidão , e assim vão se formando núcleos de lobos solitários. Cada um com uma história , todos com o mesmo vazio existencial em datas festivas. Chega a ser desanimador fazer novas amizades dentro da comunidade .

Amigos nativos? Vamos admitir, são mentalmente e culturalmente diferentes. Até rola uma amizade legal , mas sempre temos que entender e respeitar o modo como eles se expressam , como agem, como pensam, como vivem. As diferenças são tantas, a começar pelo senso de humor. Geralmente são amizades de afinidades zero , mas necessárias.

Quando chegamos a este ponto , fica realmente dificil decidir onde viver o resto de nossas vidas. Voltar novamente ao nosso país de origem e resgatar os laços perdidos? Ficar para sempre onde estamos ? Ou encarar um novo país?

Dúvidas a parte, a sensação será sempre a mesma, a de não pertencer mais a lugar algum...


Nenhum comentário: