quarta-feira, 6 de março de 2013

Referências



Certa vez, no Brasil, conheci uma pessoa, que já havia vivido em vários países. Nasceu na Alemanha,  estudou por um tempo nos Estados Unidos, depois estudou no Brasil, e terminou os estudos na Alemanha. Ou seja, esta pessoa viveu a sua adolescência inserido em varias culturas justamente no periodo mais importante da nossa formação, a infância e a adolescencia. Segundo esta pessoa, era dificil fazer alguem que não viveu tal experiência compreender a sua falta ( ou excesso) de referências em certas fases da vida. Buscar as raízes, era esta a questão.
Creio que eu compreendo bem como é se sentir sem raízes, sem pátria. De tanto viver inserido em outras culturas, acabamos perdendo o nosso chão. Não é o mesmo que viajar e ter para aonde voltar.
A busca por nossas raízes se torna algo cada vez mais distante a medida que amadurecemos e seguimos vivendo inseridos em outras culturas. É preciso escolher aonde plantar as nossas raízes e não busca-las.
Eu como filha de japoneses, porém, brasileira  de São Paulo, vivendo no Japão ha mais de 8 anos, sei bem oque é a confusão que as pessoas fazem ao julgar a minha origem. Na Suiça, as pessoas viviam me perguntando sobre a cultura japonesa como se eu fosse conhecedora de toda a riqueza cultural deste pais. Eu não conheço ainda nem um terço desta complexa cultura oriental , e creio que as pessoas que nunca viveram aqui, nem imaginam como seja realmente o povo e a cultura japonesa.  A referência para os brasileiros são os nipo-brasileiros que são muito diferentes no comportamento e na mentalidade dos japoneses nativos.  Aparência oriental e mentalidade ocidental, com algumas heranças infiltradas no DNA. Este último, não tem como mudar.
Quando voltei ao Brasil e estive por lá por  mais de um ano, muitas pessoas me perguntavam como é que eu tinha aprendido a falar português tão fluentemente se eu havia acabado de voltar do Japão. Santa ignorância, pensei! Aquilo que era obvio para mim, para alguns era um misterio. Ao contrario dos brasileiros ( no Brasil) , os japoneses de pronto percebem que eu sou estrangeira e não japonesa, mas normalmente me confundem com uma filipina ou tailandesa. Até mesmo os filipinos me confundem com uma filipina e muitos começam a falar comigo na sua lingua nativa,  Como se eu compreendesse.
Com tanta confusão, fica dificil me posicionar como brasileira em qualquer outra cultura.  A ficha caiu para mim no Brasil. Se até no Brasil as pessoas já começaram a me confundir com uma japonesa pelo simples fato de ter vivido alguns anos no Japao. Como será daqui para frente?
No momento em que esta questão começa a nos incomodar é porque já começamos a perder as nossas raízes ( familia, cultura e país de origem) e começamos a viver a grande aventura de ser um cidadão do mundo. Tanto faz aonde estejamos e a nossa maior busca começa a se concentrar em plantar raízes em algum lugar e não mais busca-las. Claro que a nossa familia será sempre uma referência muito forte e sempre voltaremos a ela, em algum momento de nossas vidas, mas familia é  herança e não propriamente a nossa morada, falando logisticamente.
Do ponto de vista de um ex-patriado, a sua raiz não se prende a um determinado local de nascimento.

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