Nunca fui muito interessada em partidas de futebol, aliás, a grande maioria das mulheres brasileiras tem pouco interesse por este tema. Parece até que futebol é assunto para os marmanjos de plantão e suas torcidas organizadas.
Quando o assunto é a Copa do Mundo, aí a coisa muda de figura. A família brasileira torce pelo seu time, desde o avô ao seu netinho. Não são os mesmos torcedores de sempre que torcem pelo seu time preferido de futebol , a abrangência é total e o povo brasileiro torce pela sua bandeira, a sua pátria.
Assim ocorreu também comigo. Torci pelo meu Brasil, pela alegria que este povo ( quase ingênuo) merecia viver. Não me refiro a classe A e nem a classe B que desde que conheço o Brasil como país, vivem em um outro mundo dentro do mesmo espaço. Me refiro a aqueles menos afortunados que não tiveram acesso a bons estudos, boa formação , salário digno e direito a um terço de qualidade de vida.
Me refiro a aquele brasileiro trabalhador, humilde e honesto que assistiu aos jogos da Copa através da tv e que não teria nem em sonho a oportunidade de ir assistir a uma partida da seleção brasileira porque o seu salário mau cobre as despesas básicas do mês. Me refiro a aquele brasileiro que para fazer parte desta grande festa ficou do lado de fora dos estádios, ouvindo os gritos da galera de dentro dos estádios e mesmo assim sentiu todas as emoções à cada momento.
Emoções. Pois é! O brasileiro é muito emocional e para muitos o desempenho do nosso time que vestia a nossa bandeira nacional causou muita , muita frustração.
Vivendo aqui fora, longe do Brasil, a visão que temos como brasileiros diante de tamanha frustração parece ser mais dolorosa. Não sei se serei capaz de traduzir em poucas e objetivas palavras, mas a sensação é de uma frustração confirmada.
Para muitos brasileiros que deixaram o seu país , por inúmeras razões, fica sempre uma sensação de estar traindo o próprio país. Aquela sensação de egoísmo, do tipo : Deixei o meu país porque ele não me oferecia aquilo que eu necessitava.
É como divorciar-se de alguém que por muitos anos nos amou, nos acolheu e com o passar dos anos e das experiências vividas já não serve mais para os nossos anseios. A solução ( nem sempre fácil) é de deixa-lo para trás e buscar novos rumos.
Assim foi comigo. Me divorciei do Brasil.
Criticar o Brasil é muito fácil estando longe. Esperar que um dia o país melhore para regressar também é muito cômodo. Já me vi nestas duas situações por várias ocasiões.
A minha decisão de viver fora do Brasil aos poucos está tomando formas mais claras. Não quero mais retornar. E por mais estranho que pareça, isto doi no fundo da alma.
Não há como arrancar o Brasil do coração quando tivemos o prazer e o privilégio de nascer em terras tupiniquins. O Brasil com todos os seus defeitos nos acorrenta, nos impregna a alma.
Deixa-lo é opção, deixar de ama-lo é ilusão.
Vivendo em terras nipônicas hà anos, me aconselharam por várias vezes a optar pela nacionalidade japonesa. Assim as coisas se tornariam mais fáceis sob alguns aspectos.
Teimosia Capricorniana ou não, me recuso a mudar a minha nacionalidade. Posso ir viver no Polo-Sul,que continuarei a adentrar em terras estrangeiras com o meu passaporte azul ( não mais verde), e naturalidade paulistana com ascendência japonesa.
Claro que não é um passaporte que dirá o quanto eu sou ou não brasileira, aquilo que conta de verdade é a emoção que carregamos no peito , não importando o quão distante estamos.
O Brasil teve a sua maior derrota ( histörica) no futebol. Doeu. Não pela seleção e nem pelo futebol, doeu pela tristeza, insatisfação e frustração que o povo brasileiro vive na atualidade , em termos gerais , e a confirmação de que a até o nosso futebol se tornou decadente demais.
Como eu disse acima, não me refiro a classe mais abastada, me refiro a aqueles brasileiros que tinham no futebol da seleção brasileira o seu ùnico orgulho, a sua ùnica referência como brasileiro perante o mundo.
Força Brazil ! Força brasileiros! Brazil com "Z" porque aqui quem vos escreve é uma brasileira que se divorciou do Brasil e nem por isso deixou de ama-lo.
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