domingo, 16 de março de 2014

A vida de um semi-analfabeto



                           Estes são  alguns dos kanjis mais fáceis de memorizar. 



Quando cheguei em terras nipônicas, eu pude finalmente compreender como é a vida de um semi- analfabeto. Vida dura. 

Nunca havia passado pela minha cabeça que o saber ler fosse tão importante quanto saber falar em alguma lingua estrangeira. 

Já provou o " terror" de descer em um aeroporto qualquer sem saber a língua local e se perder por horas à fio dentro do aeroporto? Pois é, eu já. Várias vezes. 

Mesmo após mais de 10 anos vivendo no Japão eu ainda não sei ir ao aeroporto de Tokio sem fazer uma grande confusão. Por precaução sempre saio umas 6 horas antes do horário do meu voo e quando eu consigo chegar ao menos 2 horas antes já é uma vitoria. 

Em uma das vezes que fui de viagem ao Brasil não sabia direito como fazer para ir ao aeroporto. Para dizer a verdade eu não sabia para qual aeroporto eu estava indo por que eu não sabia que existiam dois aeroportos em Tokio. Fui no fluxo. 

Por sorte ( pura sorte) , dentro do trem que ligava um terminal ao outro vi uma conhecida peruana descer do trem. Eu desci junto e a segui...hahahaha...foi a minha salvação. Fui no fluxo e deu certo. 

Hoje em dia já não faço mais essas coisas. Procuro sempre pedir ajuda a alguma amiga japonesa para que ela me oriente antes por onde eu devo ir. Até hoje não sei direito. 

O motivo de tanta confusão eu creio que seja realmente o fato de eu não ler " kanjis" , aqueles ideogramas de origem chinesa que usam no Japão também. Quando eu vejo algum trem ou ônibus com os letreiros em " kanji" eu automaticamente entro em pânico e não consigo mais raciocinar . 

Nestas horas o jeito é procurar alguém e perguntar. Nem sempre eu entendo, mas dá para me virar. 

O meu grande desafio aqui no Japão é pegar trens. Nunca sei onde descer, erro de plataforma várias vezes e fico andando em giro por toda a estação. Pior ainda quando é o trem- bala. 

Nas bilheterias do trem bala existe a opção de assento reservado, não reservado e fumantes. Sempre compro o " reservado" , e sempre entro no vagão errado. Isso quando não entro no trem errado e vou na direção contrária. A única coisa que é legível nos bilhetes do trem- bala são os numeros , o resto é tudo em Kanji. Espero que até as Olimpiadas de 2020 os japoneses tomem providências e escrevam em inglēs pelo menos. 

Outro detalhe é sair as compras. Já estou acostumada e sei quais produtos comprar, mas vira e mexe compro uma coisa pensando que é outra. Como a vez que comprei um pão que parecia pão de torresmo e quando eu o abocanhei percebi que era um pão doce de feijão japonês. Já comprei açucar pensando que era sal. Isto já não acontece com tanta frequência , mas acontece. 

Ir a restaurantes típicos japoneses com seus menus todos em kanji sem nenhuma foto ilustrativa é outra aventura que eu evito ao máximo. Só frequento os restaurantes de sempre ou com fotos ilustrativas no menu. Se não tem fotos no cardápio eu nem entro. Meus preferidos aqui no Japão são as redes de lanchonetes americanas , restaurantes no estilo americano e italiano. De resto, só vou quando estou acompanhada por alguém que saiba ler em kanji. 

Quanta privação vivemos quando somos semi- analfabetos , não?

Já pensei em começar a estudar " kanjis" , mas são mais de 3 mil ideogramas e cada um tem uma forma correta de escrever. Até mesmo os japoneses não são capazes de escrever corretamente cada kanji, ou interpreta-lo corretamente. 

Após  mais de 10 anos no Japão eu já deveria ter aprendido pelo menos a me virar bem nas ruas sem passar por tanto sufoco, mesmo sem saber ler tudo,  mas eu creio que no meu caso è mais uma questão de falha na memória. Nunca consigo gravar na memória  os caminhos que fiz. Imagine gravar 3 mil kanjis?

Impossible!!


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