terça-feira, 28 de novembro de 2017

Hierarquia social




O Japão é um país de uma cultura totalmente hierárquica em todos os sentidos, apesar dos jovens já demonstrarem um comportamento totalmente diferente dos mais velhos. Não chega a ser um comportamento transgessor á esta hierarquia, é uma transgressão velada, não explicita.

Em um ambiente de trabalho podemos notar nitidamente esta hierarquia a todo momento. Quer conviver em paz e harmonia com a japonesada e ser respeitado? Respeite a hierarquia e mantenha os bons modos nos relacionamentos.

Para nós brasileiros que viemos de uma cultura mais livre e sem regras para absolutamente nada o Japão pode parecer ser uma grande pedra no sapato. É pisar em ovos constantemente com uma pedra incomodando dentro do sapato.

Quando eu cheguei em terras nipônicas ha mais ou menos 15 anos atrás, eu era uma selvagem que não tinha modos nem para me sentar , jogava bitucas de cigarro nas ruas, falava alto ao telefone dentro de trens , não respeitava filas , não tinha o habito de agradecer e nem de cumprimentar as pessoas no trabalho. Quem dirá de me curvar ( saudaçao japonesa) ao passar perto de algum chefe.

Apanhei muito no começo. Me sentia como o menino selvagem dos desenhos  animados da Disney, ou a Megera domada de Shakespeare. Demorei anos para aprender a ter modos e a me relacionar com os japoneses conforme os padrões da cultura nipônica.


Não adianta querer lutar contra uma cultura quando você vive dentro dela, o estranho no ninho sempre será aquele que veio de fora. Por sorte a maioria dos japoneses que eu conheci por aqui , apesar de se incomodarem com o meu jeitão meio mal educado sempre foram muito compreensivos e pacientes . Entendiam de alguma forma que eu não agia grosseiramente para enfrenta-los , era apenas uma ligeira falta de modos .

Apesar do tempo e da convivência com japoneses e de ter aprendido que bituca de cigarro não se joga no chão e nem se fura a fila em momento algum, eu ainda não aprendi a classificar algumas saudações hierárquicas dentro do ambiente de trabalho.

Ontem uma amiga japonesa me aconselhou a não usar certas saudações no trabalho com pessoas que são hierarquicamente superiores.

Na minha cabeça quem está acima de mim é o meu chefe , o chefe do meu chefe e assim por diante. Quando me comunico com eles costumo sempre usar o "sumimasen" (com licença) toda vez que me reporto a eles , e usar o " otsukaresama" ( agradecimento pelo esforço) , ao me despedir. É como  dizer : - Bom descanço após um dia de trabalho, só que com variações de grau e de gênero.

Por força do hábito e  a preguiça de ficar classificando mentalmente a expressão correta ao saudar a japonesada em geral , eu às vezes mando um "otsukarê" geral sem me preocupar se dentre a japonesada estaria uma pessoa hierarquicamente superior. Na minha cabeça era uma saudação geral, só que não.

Segundo a minha amiga japonesa , que se senta ao meu lado no meu trabalho, ela ficava horrorizada quando eu respondia com um "otsukarê" para uma japonesa que seria superior a nós por ela ser uma funcionária vitalícia da empresa da qual nós somos terceirizados. A expressão "otsukarê" , forma abreviada do "otsukaresama" é normalmente utilizado apenas com amigos intimos ou pessoas do mesmo nivel. Para não errar é aconselhavel usar sempre o"otsukaresamadesu",  que é mais polido e
serve para todo mundo.

Outra questão é o respeito pelo "senpai" , ou veterano. Mesmo que ele não seja seu chefe , um veterano deverá impreterivelmente ser respeitado por um novato . Eu já tive a honra de provar este respeito japonês . Quando os novatos descobrem que eu sou uma funcionária antiga com cerca de 9 anos ( entre idas e vindas) e que sou experiente no ramo , é absurdo o modo respeitoso que me tratam apesar de eu ser estrangeira. Algumas pessoas resistem pelo fato de eu ser estrangeira , mas a maioria respeita .

Enfim, este é o perfeito relato de uma pessoa , no caso eu, que tive de  aprender a respeitar o outro e a sua cultura para só assim provar o sabor do respeito direcionado a minha pessoa mesmo  sendo estrangeira.

Obviamente que ainda estarei em desvantagem , afinal, nunca deixarei de ser uma estrangeira e de solta  de vez em quando um "otsukarê" em momentos inadequados, mas tem um certo sabor de conquista. E isto é muito gratificante.





Nenhum comentário: