quinta-feira, 8 de março de 2018
Sociabilidade no trabalho
Sabe o que é não poder ser você mesmo ? Aqui em terras nipônicas é meio assim que as coisas funcionam. Existe um padrão de comportamento que é bem visto no ambiente de trabalho. Como todo mundo já deve saber , o Japão é o país das relações convencionais. Talvez por esta razão se formem tantas panelinhas no trabalho.
Aqui no Japão existe uma expressão que se refere as pessoas que não fazem parte de uma panelinha , ou que foram excluidas, é o "nakama hazurê" , que quer dizer , mais ou menos, sem turma . Uma pessoa pode ser excluida de sua panelinha por várias razões , mas o pior mesmo é a não inclusão. Me soa um pouco com a cultura do "ijime" das escolas japonesas que vai se alastrando até na idade adulta.
Uma colega de trabalho japonesa se desntendeu com a lider da minha seção por ter mostrado a sua verdadeira face e ter falado aquilo que ela pensava em termos de organizaçåo e distribuição do trabalho. Desde este dia , notavelmente a japa tem sido excluida de absolutamente tudo. Ontem foi um dia de pouco trabalho , enquanto eu fui incumbida de estudar e praticar a inspeção de um novo produto , a japa foi deixada de lado. Lhe restou fazer "sōji" , ou seja , limpeza.
Aquela cena da minha colega limpando o piso me revoltou , apesar de ser normal no Japão as pessoas fazerem a limpeza do local onde trabalham. Nåo é nada indigno , mas dava para perceber que ela foi propositadamente esquecida. Fiquei com pena e a chamei para aprender a medir "newtons" de vidros junto comigo.
Uma outra colega japa vive sendo transferida de um lado ao outro porque ninguém gosta dela . É daquelas japas metidas que se sentem a ultima bolacha do pacote, além de ter uma personalidade muito forte. Desta vez ela foi transferida para o ultimo prédio que fica a uns 10 minutos de distância da entrada principal. Depois deste prédio é o mar. Dizem as más linguas que mais um passo e ela cai dentro do mar.
Ao contrario das minhas amigas japas que foram literalmente excluidas das panelinhas, surpreendentemente um colega japa foi promovido a "shain" , ou seja, funcionário vitalicio do cliente contratante. Coisa muito rara de acontecer aqui onde eu trabalho. E qual seria a razão de contratar um "shain" se os funcionarios antigos de casa não tem mais uma função especifica desde a queda da produção? Segundo uma amiga japonesa, ele além de puxa-saco profissional dos chefões é um tipo bem submisso e bom de conversa.
Resumindo, nestes três casos nota-se perfeitamente que em um ambiente de trabalho japonês nós nunca podemos ser aquilo que somos ou expressar aquilo que pensamos sem o consentimento e aprovação dos nossos lideres. Parece existir um padrão de comportamento que é aceito por todos , que é o da submissão. Submissão esta , que não garante promoções, mas evita os "ijimes" no ambiente de trabalho.
Com toda esta politica de bom comportamento no trabalho, eu ando me estressando internamente por não ter o direito de me expressar à minha maneira. É um tal de yoroshiku onegaishimasu , dōmo sumimasen deshita, arigatou gozaimashita , otsukaresama deshita, moshiwakenai desu, e tantas outras expressões que expressam respeito e submissão que eu ando querendo mandar a japaiada para a casa do chapéu.
Não há coisa pior nesta vida do que não poder ser quem somos e nos privar de expressar o que pensamos em função de convenções hierárquicas. Mas, fazer o quê? Saiu na chuva é pra se molhar!
Aqui é Japão! Um país que respeita rigorosamente todas as escalas da hierarquia. Quer falar mais alto, gritar ao mundo aquilo que pensa , ser você mesmo e ainda ser respeitado ? Torne- se Shatyo!
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