sábado, 20 de julho de 2013

Agradecer a Deus



A minha vida já deu muitas voltas, e nunca , jamais pensei que um dia seria grata por estar no Japão. País que eu odiava pela sua mentalidade estreita. Talvez muito mais pela imagem que eu construî dos japoneses com a minha convivência infeliz com o meu pai , que era de origem japonesa. Sempre tive a ideia de que todo japonês era igual ao meu pai. Frio, mau humorado, autoritário, machista, preconceituoso, descrente de Deus, e exageradamente materialista, quase um egoísta. Ainda existem alguns japoneses assim por aqui, mas creio eu que é uma minoria. Pelo menos aqui em Shizuoka. 
A geração jovem é completamente diferente. Apesar de serem mais vazios, são mais livres e mais dóceis. 
Ontem, eu fui trabalhar ( sabadão) e meu colega japa estava trabalhando com o seu iphone ligado e assisitindo a programas de tv . Depois ele terminou todo o seu trabalho e saiu umas quinhentas  vezes para fumar até dar o seu horário duríssimo de 12 horas de trabalho. Ele trabalhou no minimo 6 horas e o restante ficou enrolando . Esta é a vida dura dos jovens japoneses de hoje. Ficam 12 horas no trabalho , mas trabalham mesmos apenas a metade do turno. Nem todo mundo vive nessa moleza, mas a grande maioria dos japoneses que recebem por hora trabalhada faz algo parecido. Principalmente os mais jovens. 
Enquanto eu digitava este texto, uma colega minha ( japonesa) de trabalho me mandou uma mensagem no meu facebook me perguntando se hoje eu comeria oniguiri ( bolinho de arroz envolto em alga) . Ela sismou de trazer oniguiri para mim todos os dias. E ainda me dou ao luxo de escolher oque ela vai colocar dentro do oniguiri. Eu adoro salmão. 
Quase todo final de mês o marido dessa minha amiga japonesa, me pergunta se eu não estou precisando de dinheiro emprestado ou se não estou passando algum aperto. Minha gente! é gentileza demais! Não estou acostumada. 
Como agora é verão, apesar de precisar trabalhar muuuito para quitar minhas dívidas, entre trabalhar e ir à praia, eu prefiro passar apertado e ir à praia. Às vezes minha chefe japonesa me chama para  ir fazer horas extras no meu dia de folga. Eu não vou! Mas nem por isso, ela fica com cara de M. 
Aqui onde eu trabalho, tenho dois dias de folga, e se eu vou trabalhar nos meus dias de folga, eu recebo 25% á mais pelo dia todo, e posso entrar a hora que eu quiser e sair a hora que eu quiser. Posso também  não ir, se eu quiser. Não existe outro lugar no Japão onde possamos ter tanta liberdade. Pelo menos eu não conheço. Rigidez? oque é isso? Aqui não existe!
Quando eu trabalhava no periodo diurno das 8:00 h as 17:00 h , eu chegava todos os dias atrasada, e nem podia dizer que era culpa do trânsito porque a distância que me separava do meu apartamento ao meu trabalho era um semáfaro. Recebia algumas indiretas nas reuniões matinais e só. 
Hoje, graças a Deus, eu entro à tarde e nunca mais me atrasei. 
O povo daqui de Shizuoka, quando se acostuma à você, mesmo sendo estrangeiro, te recebem como a um filho que retornou para casa. 
A minha maior felicidade desde que voltei para cá a Shizuoka, foi ouvir de absolutamente todos os meus colegas e chefes japoneses um calorozo : Okairiiii! que em japonês quer dizer : Bem vindo, de volta!
Muito obrigada meu Deus! E muito obrigada a este povo de Shizuoka que me acolheu tão calorosamente!
Hoje eu compreendo que precisei matar esta imagem "terrivel" que tinha dos japoneses na convivência com o povo daqui. Fechei mais um ciclo da minha vida :-)

Nenhum comentário: