domingo, 24 de agosto de 2014

Coisas do Japão


Se existe um país onde os estrangeiros não conseguem de forma alguma levar uma vida normal, inseridos dentro da   cultura local, este país é o Japão. Em todo momento sentimos que somos estrangeiros. Que seja pelas diferenças culturais, mentalidade, e até mesmo pelo excesso de distância que os japoneses nativos tomam de nós estrangeiros. Talvez toda a Àsia seja assim, não posso falar sobre as outras culturas asiáticas porque não as conheço por vivência.

Sempre existe uma possibilidade de "exclusão" vindas de todas as partes e por mais que tentemos abraçar este país como nosso, sempre acabamos frustrados.

Não quero afirmar que os japoneses sejam preconceituosos em relação a outras raças e nacionalidades, mas percebe-se um excesso de cuidado quando se tratam de latinos, ou melhor dizer, brasileiros.

Hoje fomos a uma companhia de telefonia celular a Au Japan, para tentar trocar o meu Ipad que pifou. Chegando na loja , vi bandeiras do Brasil e algumas informações escritas em português. Eram informações sobre atendimento por vídeo , on line com um intérprete em português. Achei isto o máximo , fiquei maravilhada com a atitude da companhia, afinal, apesar de ser uma das companhias com os serviços mais caros, eu sempre usei os serviços desta companhia.

Como sempre, fui muito bem atendida por uma das atendentes japonesas. Muito simpáticas, quase meigas, enfim, uma belezura o atendimento no balcão. Não tenho do que reclamar, porém, em se tratando de "cultura japonesa", sempre tem aquele momento de "exclusão" social , que no meu caso, me frustra muito e por vezes até me  magoa sutilmente.

Ser filho de japonês e ter um visto diferenciado não faz muita diferença quando o nosso passaporte faz parte do "Mercosul". Após cerca de 3 horas para decidir por qual plano optar. Estava em dúvida se eu fazia um plano novo e cancelava o antigo pagando uma multa de cerca 100 dólares , ou se eu continuava com o mesmo plano e apenas trocava meu Ipad por um outro mais caro. Horas e horas de indecisão, até que decidi por optar pagar a multa de cancelamento e fazer um novo plano de um Smart phone , muito mais caro e com um plano de pagamento de 24 meses.

Os documentos exigidos para o estrangeiro são: aliens card, cartão da previdência social (não sei o que tem a ver, talvez tudo), cartão do banco e o passaporte.

Após preencher os dados pessoais em um novo contrato e entregar os documentos , a atendente envia a copia dos documentos por fax para aprovação qe dura cerca de meia hora no máximo.

A minha proposta, após horas infinitas no atendimento e preenchimento de formulários foi recusado. Querem saber o motivo? O meu visto está para expirar em um ano e como o plano é de 24 meses não poderei dividir o pagamento em 24 vezes, apenas à vista, ou no cartão de crédito, que aliás, requer um outro procedimento de aprovação.

Saí frustrada da loja e só não discuti com a atendente porque elas normalmente não são  o tipo de atendentes que nos inspirem a armar um barraco por sua sutileza, meiguice e educação no atendimento. Mas bem que ela poderia ter pedido primeiro o meu passaporte antes de me fazer perder tanto tempo no balcão, não é mesmo?

Segundo uma amiga minha que me acompanhou à loja, tais atendentes ganham pontuações por cliente atendido, apesar da atendente não ter conseguido fechar um contrato comigo por questões de normas e regras da empresa, ela me atendeu muito bem e ainda comprei um novo plug para o meu antigo Ipad pifado , que agora , apesar de ainda estar pagando o plano pela Au Japan, já não é mais problema deles . Agora a minha nova empreitada deve ser na Apple Japonesa e sua assistência técnica.

Enfim, perdi a minha tarde toda, sai chateada , e sem uma solução para o meu Ipad pifado que não conecta a internet nem à pau, e ainda por cima, com a certeza de que eu não poderei ter o direito de um financiamento de qualquer outro aparelho se o meu visto for inferior à 2 anos.

Tô amarrada? Sim, estou. Este fato muda completamente os meus planos de contenção de despesas, pois pretendia cancelar a minha linha telefônica que já está com 2 anos de contrato e já  isenta de pagar uma multa de cerca de 270 dólares por cancelamento antes do final do contrato. Como não poderei mais financiar um plano para a obtenção de um celular com internet enquanto eu não renovar o meu visto de 3 anos eu não poderei nem pensar em fazer um novo plano. O jeito vai ser continuar  com a linha telefônica residencial e com o Ipad bichado, caso não tenha nenhuma solução para ele e continuar a pagar o plano mesmo sem usa-lo.

E tudo isto por quê? Porque japonês é muito desconfiado com relação a estrangeiros e se um, apenas um estrangeiro , se comporta de forma inadequada para os padrões da cultura japonesa, eles generalizam tudo de uma forma quase que absurda e preconceituosa.

Então é isso, minha gente. Para um estrangeiro ser incluído nesta cultura, é preciso que ele seja e demonstre por atitudes ser merecedor de confiança e crédito, muito mais do que os próprios japoneses que aliás, são grandes caloteiros que não pagam em dia as suas contribuições para a prefeitura local, não pagam a contribuição obrigatória para a rede de tv do governo japonês e atrasam as suas contas mensais .

Aquilo que nos diferencia dos japoneses na obtenção de crédito aqui no Japão não é a sua ficha limpa, é o prazo do seu visto e a sua origem.

Estou sendo preconceituosa? Creio que a recíproca é mais do que verdadeira quando atitudes camufladas por regras e normas de qualquer empresa japonesa que seja , excluem aos estrangeiros por sua condição e favorecem ou simplesmente fazem vistas grossas para os caloteiros  e espertinhos japoneses.

Pronto! Falei!

Não dá para "tentar" amar e se integrar a um país que não te aceita como igual. Estaremos sempre à margem da sociedade de alguma forma.

O meu conselho para os admiradores e fans desta cultura milenar, é a de mantê-la assim, sempre com uma certa distância , visitas esporádicas como turistas e nunca vive-la . A cultura japonesa é fantástica e riquíssima quando vista de fora, vivencia-la no seu dia-à-dia e integrar-se a ela é outra história, bem diferente.





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