quarta-feira, 1 de outubro de 2014

É muito estranho...



Provisoriamente morando com uma amiga peruana e oficialmente morando com uma amiga japonesa. É esta confusão que anda a minha vida. Vida de cigana em terras nipônicas não é nada fácil. 

Hoje foi o meu primeiro dia na minha nova hospedagem . Um conjunto de prédios da prefeitura onde vivem várias famílias brasileiras , alguns poucos peruanos e japoneses. 

Eu que estou acostumada a viver sozinha e quase que isolada da comunidade latina, cá estou eu na casa de uma amiga peruana de nacionalidade japonesa. Ela é mestiça e não se parece em nada a uma japonesa, talvez muito mais a uma espanhola. A sua família é uma verdadeira mescla de japoneses, peruanos, brasileiros e atę filipinos. Isto sim , é o verdadeiro encontro das Nações Unidas. 

Conheci dois de seus sobrinhos que são nascidos em terras nipônicas , frequentam a escola japonesa e só falam japonês , mas entendem um pouco de espanhol.  O detalhe interessante é que os dois meninos nào tem absolutamente nada de japoneses. Um deles é moreno, outro é branquíssimo com cara de gringo, filhos de maē peruana com ascendência japonesa, espanhola e inca, e pai brasileiro com ascendência italiana, talvez portuguesa também. 

É inevitável querer falar com os meninos em português, ou espanhol, pela aparência ocidental, mas eles talvez nem entendam direito o português. O jeito é me comunicar com eles em japonês. 

Se na minha cabeça , vem de imediato um comando para me comunicar com eles em português movida  por um impulso visual ( a aparência de brasileiros) , como serā que as coisas funcionam na cabeça destas crianças?

Será que eles se sentem mais brasileiros, mais peruanos, mais japoneses, ou simplesmente dois meros e raros exemplares de extraterrestres?

Fiquei aqui pensando se tanta mistura de raças , apesar de interessantissima, não confunde a cabeça de tais crianças que não sabem definir ao certo as suas origens sanguíneas aliadas a própria naturalidade  em terras estrangeiras. 

Este encontro de hoje  com os sobrinhos da minha amiga , me fez lembrar do nervoso que passei na Suiça por ser confundida a toda hora  com uma tailandesa, ou japonesa nativa. As pessoas não entendiam as minhas origens , e talvez nem sabiam da existência de colônias japonesas no Brasil . Portanto, todo mundo que eu conhecia na Suiça, simplesmente ignorava o fato de eu ser nipo- brasileira e já começavam a me perguntar sobre o Japão, ignorando a minha nacionalidade brasileira. Isto me deixava profundamente irritada. 

E para estes garotos? 

Como será o convivio com pais de origens diferentes , línguas diferentes , apesar da proximidade do espanhol para o português?

E a vida escolar? Qual será a identidade deles dentro de escolas japonesas?

Me pus a refletir sobre a minha própria dificuldade em me posicionar como brasileira ou como japonesa, com crises de identidade em várias ocasiões. Imagine como não deve estar a cabeça destes meninos , nesta fase de adolescência em que sempre buscamos nos unir a iguais para encontrarmos  a nossa própria identidade?

Coitadinhos, espero que eles não sejam muito sensíveis e sejam daqueles garotos casca grossa que nem ligam para essas frescuras de mulher, porque senão, a cabeça deles vai dar um nó dificil de desatar até que amadureçam. 

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