Provisoriamente morando com uma amiga peruana e oficialmente morando com uma amiga japonesa. É esta confusão que anda a minha vida. Vida de cigana em terras nipônicas não é nada fácil.
Hoje foi o meu primeiro dia na minha nova hospedagem . Um conjunto de prédios da prefeitura onde vivem várias famílias brasileiras , alguns poucos peruanos e japoneses.
Eu que estou acostumada a viver sozinha e quase que isolada da comunidade latina, cá estou eu na casa de uma amiga peruana de nacionalidade japonesa. Ela é mestiça e não se parece em nada a uma japonesa, talvez muito mais a uma espanhola. A sua família é uma verdadeira mescla de japoneses, peruanos, brasileiros e atę filipinos. Isto sim , é o verdadeiro encontro das Nações Unidas.
Conheci dois de seus sobrinhos que são nascidos em terras nipônicas , frequentam a escola japonesa e só falam japonês , mas entendem um pouco de espanhol. O detalhe interessante é que os dois meninos nào tem absolutamente nada de japoneses. Um deles é moreno, outro é branquíssimo com cara de gringo, filhos de maē peruana com ascendência japonesa, espanhola e inca, e pai brasileiro com ascendência italiana, talvez portuguesa também.
É inevitável querer falar com os meninos em português, ou espanhol, pela aparência ocidental, mas eles talvez nem entendam direito o português. O jeito é me comunicar com eles em japonês.
Se na minha cabeça , vem de imediato um comando para me comunicar com eles em português movida por um impulso visual ( a aparência de brasileiros) , como serā que as coisas funcionam na cabeça destas crianças?
Será que eles se sentem mais brasileiros, mais peruanos, mais japoneses, ou simplesmente dois meros e raros exemplares de extraterrestres?
Fiquei aqui pensando se tanta mistura de raças , apesar de interessantissima, não confunde a cabeça de tais crianças que não sabem definir ao certo as suas origens sanguíneas aliadas a própria naturalidade em terras estrangeiras.
Este encontro de hoje com os sobrinhos da minha amiga , me fez lembrar do nervoso que passei na Suiça por ser confundida a toda hora com uma tailandesa, ou japonesa nativa. As pessoas não entendiam as minhas origens , e talvez nem sabiam da existência de colônias japonesas no Brasil . Portanto, todo mundo que eu conhecia na Suiça, simplesmente ignorava o fato de eu ser nipo- brasileira e já começavam a me perguntar sobre o Japão, ignorando a minha nacionalidade brasileira. Isto me deixava profundamente irritada.
E para estes garotos?
Como será o convivio com pais de origens diferentes , línguas diferentes , apesar da proximidade do espanhol para o português?
E a vida escolar? Qual será a identidade deles dentro de escolas japonesas?
Me pus a refletir sobre a minha própria dificuldade em me posicionar como brasileira ou como japonesa, com crises de identidade em várias ocasiões. Imagine como não deve estar a cabeça destes meninos , nesta fase de adolescência em que sempre buscamos nos unir a iguais para encontrarmos a nossa própria identidade?
Coitadinhos, espero que eles não sejam muito sensíveis e sejam daqueles garotos casca grossa que nem ligam para essas frescuras de mulher, porque senão, a cabeça deles vai dar um nó dificil de desatar até que amadureçam.
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