segunda-feira, 9 de junho de 2014

Stress linguístico



Não sei se isto ocorre com todas as pessoas que vivem em países estrangeiros e são obrigadas a falar e ouvir por 24 horas uma língua que não a nosssa língua madre, e  por vezes somos pegos por um stress linguístico . 

Durante toda a semana eu me comunico somente em japonês, e a noite deixo sempre a tv ligada por causa dos noticiários de terremoto que podem vir a qualquer momento, e não estar com a tv ou o  celular ligados é desaconselhável em terras nipônicas. Eu que jå passei por grandes terremotos por aqui, fico sempre em alerta. Enquanto estou em casa , a tv está sempre ligada, e obviamente os noticiários são em japonês. 

Para amenizar este excesso de japonês, procuro assistir alguns videos no youtube, os meus preferidos são o do Porta dos Fundos e seu humor escrachado. Morro de rir, coisa difícil ao assistir programas de humor japonês. O senso de humor é diferente e seria preciso conhecer mais a fundo a  cultura japonesa para poder rir de alguns programas de humor que para mim são " idiotas" demais. Claro que isto é cultural, cada país com o seu senso de humor. 

O pior para mim é fazer- me entender e ter uma comunicação livre de obstáculos com os japoneses. Sempre fica a impressão de ter uma "parede" que me impede de saber com quem realmente estou falando. Sempre escondem algo, não por maldade, mas eles são assim, os japoneses. Não são espontâneos como os brasileiros e tantas outras raças. 

Com tanta dificuldade na comunicação, não só por eu não dominar 100% da língua, mas muito mais pelas diferenças no modo de compreender algumas situações ( mentalidade) , falar com um japonês se torna uma coisa um tanto o quanto desinteressante sob o aspecto da espontaneidade na comunicação interpessoal. 

E como faço para dizer as minhas amigas japas que eu não quero falar em japonês ao menos nos meus dias de folga? Seria deselegante no mínimo. 

As japas me convidam gentilmente para virem me visitar em casa, ou sair para beber ( eu odeio) no estilo japonês, sentados no chão, comendo comida caseira japa e enchendo o caco de cerveja. E quando eu me recuso a ir beber com elas , logo dizem que não compreendem o porquê, já que eu bebo vinho toda a semana. 

Se elas se dispusessem a ir a um restaurante italiano para apreciar um bom vinho eu iria com todo o prazer, ou ir aos tantos cafés onde se podem apreciar uma variedade imensa de chás e cakes , mas encher o caco de cerveja ou qualquer outra bebida não é a minha praia. 

Para os japoneses encher o caco e beber até cair no chão é uma forma de se liberarem, serem um pouco mais espontâneos e depois jogar a culpa no alcool. É cultural. Eu tô fora. 

Percebí na convivência com os japoneses de que eles são muito cabeça- duras. Tipo, se aprenderam que uma coisa é assim, não pode ser assado. Aceitar e aprender com as diferenças culturais também é algo difícil para eles conseguirem absorver e compreender, não necessariamente aceitar, mas perceber que diferenças existem em toda a parte. 

A mentalidade japonesa é muito coletiva, e se todo mundo anda na via da esquerda, aquele que decide andar na via do meio é no mínimo persona non grata. Ao mesmo tempo que criticam, invejam quem tem a coragem de ser diferente. Dualidades japonesas. 

Com tudo isso, eu tive que inventar uma desculpa para uma amiga japonesa que insiste em vir me visitar em casa nos meus dias de folga. É a segunda vez que eu dou um chega pra lá na coitada, mas quem ē que aguenta tamanha falta de espontaneidade nos relacionamentos? Eu não tenho paciência, mas ao mesmo tempo fico com pena da japa. 

As vezes tenho vontade de dizer às minhas amigas  japas o que sinto na convivência com elas , mas sei que estarei sendo injusta e também não entenderiam o meu ponto de vista. Seria preciso usar muito bem as palavras ( em japonês) para fazer- me entender. Então, deixa isso pra lá! 

Vou inventando desculpas e assim a vida transcorre...naturalmente. 

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