segunda-feira, 30 de junho de 2014

Aprendendo a dar valor



Sempre me pego reclamando de alguma coisa. Acho que é vício, herança paterna ou culpa do meu regente "Chaturnino". Alguèm já conheceu algum Capricorniano que não reclama? Eu não.

Durante estes últimos meses  tenho reclamado muito do meu trabalho, do meu salário, da minha chefa  japa ( que é muito boazinha) , e até da limpeza e organização do prédio onde eu trabalho. Tem sempre muita teia de aranha pra tudo que é lado. 

O Japão deveria  se chamar : O país das teias de aranha e não do Sol nascente.

Apesar dos pesares, o meu trabalho e o meu ambiente de trabalho aqui no Japão é muito bom. Muuuuuito bommmmm mesmo!

Para nós estrangeiros que não dominamos a língua local, ou não  temos formação Universitária com validade no exterior, os trabalhos que aparecem são frequentemente os braçais. Aquele tipo de trabalho que ninguém quer fazer. Sabe como é?

Não só no Japão como em outros países, se você não foi transferido pela sua empresa , ou se você não possui alguma graduação com validade em países estrangeiros, vai lavar muito banheiro, fazer faxina em residências, ser garçonete, au pair , ou operário de alguma fábrica. 

Este é sempre o caminho que temos que trilhar em terras estrangeiras quando precisamos realmente trabalhar. Não restam muitas opções.

E ainda tem gente que pensa que a vida fora do nosso país é um mar de rosas. Ledo engano. Temos que batalhar muito mais, ser muito mais humildes. 

Ontem uma amiga me chamou para fazer um arubaito em uma fábrica. Arubaito em japonês é bico. Muitos estudantes japoneses fazem "arubaito" depois da escola , mas normalmente  o fazem em restaurantes e lojas de conveniência. Para nós estrangeiros restam sempre as fábricas. 

Como eu ando sem muito trabalho e com os dias de folga livres , decidi aceitar o desafio de trabalhar 8 horinhas em uma pequena fábrica de plásticos. 

O trabalho nem era dificil  ou pesado, mas a fábrica era quente demais. Creio que fui umas três vezes ou mais ao banheiro para molhar o pescoço e os pulsos. Outra dificuldade foi trabalhar em pé. Meu Deus, porque será que não pode trabalhar sentado?

Meus pés ficaram moídos e com um pouco mais de 5 horas de trabalho eu já não conseguia ficar em pé sem sentir desconforto nos pés e nas costas. 

A vaga para este bico era de 12 horas, mas demos um jeito de eu ficar apenas 8 horas. Se com 5 horas eu já estava pedindo arrego, imaginem 12 h?

Pior, tem gente que se sujeita e prefere trabalhar assim. Quanto mais horas de trabalho, mais extras pagam. Por mais que eu queira $$ , eu não possuo tal disposição física.

Gente! e o refeitorio da tal fabriqueta? Gente fumando em um espaço mínimo enquanto outros almoçam. E o microondas? Alguém fez uma arte barroca nele de tão sujo.

Não. Ninguém merece se acostumar com este tipo de ambiente. 

Amanhã volto para o meu " amado trabalho" . Ar condicionado a 21 graus , cadeira com rodas ( eu nem levanto da cadeira para me locomover) , ambiente limpo, intervalos de 15 minutos a cada 2 horas ( sempre faço 25 minutos) , banheiro limpo ( uma empresa faz a faxina) , uniforme limpo e engomado à cada duas semanas, e muito , mas muito respeito e preocupação com a nossa saúde física. 

Nunca mais vou reclamar do frio que faz na minha seção por causa do ar condicionado, também nunca mais vou  reclamar quando trocam a minha cadeira almofadada por outra mais dura, muito menos do microondas do refeitório que demora a aquecer mas está sempre limpo. Nem vou reclamar mais do desgaste da minha visão, a única parte do corpo que eu uso quando estou trabalhando. Nem posso, hoje usamos microscópio e um programa de medição de partículas microscópicas . 

As teias de aranha? Ahhh, deixa as aranhas sossegadas. Aqui no Japão uma aranha tecendo uma rede onde quer que seja é sinal de sorte. 

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