Há mais de 20 anos que fico indo e vindo, de um lado do mundo ao outro. Passei longos periodos no Brasil durante estes 20 anos , mas se for computar tudo , creio que vivi a metade deste periodo em cada país, entre o Brasil e o Japão. Algumas passagens breves pela Europa obviamente, umas 4 ou 5 vezes. Nem me lembro mais. Difícil administrar uma vida assim errante. De cada lugar que parto, não deixo apenas lembranças e alguns pertences, deixo sempre um pedaço de mim. Nenhum lugar é mais o meu lar, o mundo é o meu lar.
Desta última vez passei mais de um ano no Brasil, junto a minha familia, em São Paulo, revi alguns amigos, trabalhei, fiz alguns cursos, fiz novos amigos, tive até um casinho que infelizmente não deu certo porque não era pra dar certo, era só para viver aquele momento. Foi bom, enquanto durou.
Não sei descrever a sensação de cada partida, é como se eu tivesse que fechar uma porta para que outra se abra e tudo aquilo que eu vivi em cada lugar já não tivesse mais importância, ou melhor dizer, já não tivesse mais continuação. A vida então se transforma em séries, em fragmentos. Coisa estranha e difícil de administrar para quem parte , imagina então para quem fica?
Para quem parte fica sempre a sensação de ter findado uma etapa para recomeçar de algum ponto. E para quem fica?
Hoje eu estava pensando na minha relação familiar mais próxima, quer dizer, aquela sanguínea, pais, irmãos e filhos, não necessáriamente a mais próxima. Como será para eles que ficaram por detrás daquela porta que tive que fechar?
Não é o mesmo que casar e sair de casa para morar em uma cidade distante do lar materno, é muito mais. Para sobreviver inserido em um outro país que fica do outro lado do mundo é preciso fechar a porta de saída, se não for assim sofre-se muito com a distância e a solidão que nos assola em países estranhos. E como administrar isso sem perder os laços?
Nem Skype, nem sms, nem telefonemas internacionais vão nos manter dentro da realidade daqueles que ficaram e nem tão poucos eles irão entender ou imaginar aquilo que vivemos no nosso dia-a-dia tão distante de tudo. Situação difícil de resolver.
A minha comunicação com a minha filha por exemplo parou no tempo. Apesar de nos falarmos, ficou algo perdido no tempo que eu não soube resolver porque não fazia parte da minha realidade cotidiana, e ela ao mesmo tempo não soube compreender que eu tinha uma vida do outro lado do mundo que era muito diferente daquela que viviamos no passado. Restam mágoas mal resolvidas do passado que já não tem mais importância, mas que ferem do mesmo jeito.
Voltar 10, 20 anos atrás para resolver pendências ocultas é uma tarefa difícil.
Quem parte está sempre em um longo processo de mutação psicológica. Quem fica não nos acompanha neste processo e aí está armada a confusão. Ninguém se entende mais.
Optei por me calar, deixar passar . Não faz mais sentido discutir o passado. A vida segue, e a fila anda.
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